Extrema-direita e contestação interna forçam saída de chanceler

Chefe do governo estava a ser criticado por alinhar opções políticas com populistas. Candidatos dos partidos da coligação derrotados na primeira volta das presidenciais.
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"Demito-me porque deixei de ter apoio no meu partido", declarou o primeiro-ministro austríaco, Werner Faymann, para justificar a decisão de abandonar o cargo que exerceu nos últimos sete anos e meio. O chanceler agora demissionário dirigia um governo de coligação com os democratas-cristãos do ÖVP, liderados por Reinhold Mitterlehner, que desempenha funções de número dois no executivo de Viena e ficará, transitoriamente, a chefiá-lo até os sociais-democratas escolherem novo dirigente.

O dirigente dos sociais-democratas austríacos, Faymann, estava a ser fortemente contestado no interior do SPÖ após o candidato do partido ter ficado em quarto lugar na primeira volta das presidenciais, que decorreram a 24 de abril. Nesta eleição, o candidato do partido de extrema-direita FPÖ (Partido da Liberdade), Norbert Hofer, obteve um destacado primeiro lugar com 35% dos votos. Em segundo ficou o candidato dos Verdes, Alexander Van der Bellen, que irá enfrentar Hofer na segunda volta, a 22 de maio. Pelo caminho, ficou também o candidato do ÖVP, Andreas Khol.

Nas sondagens a anteceder a primeira volta, Hofer surgia sempre em segundo lugar atrás de Van der Bellen, com intenções de voto entre os 20% e os 25%. Ora, foi o candidato do FPÖ a chegar aos 35% e o candidato dos Verdes é que se ficou pelos 22%.

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O mau desempenho dos candidatos dos partidos no poder é atribuído a uma longa permanência conjunta no poder, desde 2008, ao mesmo tempo que a extrema-direita do FPÖ não tem cessado de crescer em termos eleitorais, ainda antes do início da crise dos refugiados. Pela primeira vez desde 1945, os candidatos do SPÖ e do ÖVP foram afastados numa primeira volta das eleições presidenciais.

Embora Mitterlehner tenha afirmado não estar em risco a coligação e não haver necessidade de eleições intercalares, um porta-voz do SPÖ afirmava ontem às agências não ser claro qual seria o futuro do governo, que resultou das eleições de 2013. As próximas legislativas só deveriam realizar-se em 2018.

O primeiro lugar do candidato do FPÖ no voto de 24 de abril foi classificado como "terramoto político" e especula-se agora, com base em sondagens surgidas desde 2015, onde regularmente o partido se situa acima dos 30% das intenções de voto, se não poderá ganhar as próximas legislativas. Ainda que os poderes presidenciais na Áustria sejam restritos, a dimensão do voto em Hofer confirma uma mudança de comportamento político no eleitorado austríaco. Desde o início dos anos 2000 que sociais-democratas e democratas-cristãos não têm cessado de perder votos.

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Alinhamento à direita

Recorde-se que o FPÖ foi o partido mais votado nas eleições de 1999 e o seu dirigente na época, Jörg Haider (falecido num acidente de automóvel em outubro de 2008), só não foi nomeado primeiro-ministro pelo seu controverso perfil político. Veio a ser escolhido o democrata-cristão Wolfgang Schüssel, que foi chanceler entre 2000 e 2007, em coligação com o FPÖ.

Uma das críticas mais duras dirigidas a Werner Faymann é que permitiu a deriva do governo para a direita, alinhando com a perspetiva do FPÖ, por exemplo, em matéria de imigração, em vez de contrariar as teses populistas e anti-imigração do partido de Hofer.

Quatro dias antes da primeira volta das presidenciais, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sebastian Kurz, anunciou a intenção de restabelecer os controlos fronteiriços entre o seu país e a Itália para reduzir a entrada de migrantes. O argumento, como explicou Kurz ao Il Messaggero, é que tinham entrado cerca de "90 mil pessoas em 2015, ou seja, o equivalente a 1% da população" austríaca, o que seria incomportável.

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Três dias após a vitória de Hofer, o Parlamento austríaco aprovava legislação, restringindo os direitos dos migrantes e refugiados. Assim, o direito de asilo passa a ser concedido por um período inicial de três anos e prevê a possibilidade daqueles serem parados na fronteira, sem possibilidade sequer de formularem pedido de asilo.

Em sinal de contestação às posições do executivo de Viena e do seu chanceler, Faymann (que gozava até agora de reputação de sobrevivente político) foi apupado por sindicalistas e jovens militantes do seu partido no passado fim de semana numa ação pública.

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