Exposição mostra trabalho de Lucian Freud

Lucian Freud, referido (pelo menos desde a morte de Francis Bacon) como "o maior pintor inglês vivo", é objecto de uma grande exposição no <a href="http://www.centrepompidou.fr/" target="_blank">Centro Georges Pompidou</a>, a primeira que lhe é dedicada em Paris no último quarto de século.<br />
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Não se trata de uma retrospectiva do pintor mas de uma mostra das últimas décadas do trabalho de Lucian Freud, hoje com 88 anos, tendo como fio condutor o tema do atelier, lugar estratégico do trabalho do artista inglês.

"Todas as minhas alegrias foram solitárias. Detesto que me vejam trabalhar", diz Lucian Freud, que desenvolveu toda a sua obra nos seus ateliers londrinos, primeiro em Paddington (ocupou o mesmo estúdio durante três décadas) e mais tarde em Notting Hill.

"Lucian Freud, O Atelier", que está patente no Centro Georges Pompidou até 19 de Julho próximo, inclui meia centena de telas e uma dúzia de ilustrações, além de fotografias do assistente do pintor, David Dawson, e do filme "Small Gestures in Bare Rooms" ("Pequenos Gestos em Quartos Vazios"), do jovem artista inglês Tim Meara.

O retrato e o autoretrato, género central no trabalho de Lucian Freud desde os anos 50, marcam a exposição do Pompidou, que reuniu um número considerável das grandes telas a que o pintor chama "large interiors" e em que o nu é dominante: o nu "animal" e cru de um pintor que gosta de se definir como "biólogo". "O que me interessa verdadeiramente nas pessoas é o lado animal. É por isso que gosto de trabalhar a partir da sua nudez", diz.

"A aura que se liberta de uma pessoa é tanto parte dela quanto a sua carne. O efeito que produzem numa divisão é tão marcante como a sua cor ou o seu cheiro. O efeito produzido no espaço por dois indivíduos pode ser assim tão diferente quanto o efeito de uma vela e de uma lâmpada eléctrica", afirma Lucian Freud no catálogo da exposição.

"O pintor deve, por isso, estar tão consciente da atmosfera como do seu objecto. É através da observação e da percepção da atmosfera que o pintor pode atingir o sentimento que pretende fazer realçar através da sua pintura", acrescenta.

A exposição no Centro Pompidou organiza-se em quatro secções: "Interior/Exterior", "Reflexão", "Reprises" e "As Flesh"("Como a carne").

"A minha concepção do retrato resulta da minha decepção diante dos retratos que se parecem com pessoas, mas não são como elas. Para mim, o quadro é a pessoa", diz Lucian Freud, que desde cedo impôs na sua pintura uma regra de "intensificação do real" na abordagem do corpo, da paisagem urbana (sempre a partir do que é visível dos seus ateliers), dos animais ou das plantas. "Eu quero que a pintura seja carne", resume o pintor.

Lucian Freud, neto do fundador da psicanálise, Sigmund Freud, nasceu em Berlim, a 8 de Dezembro de 1922, numa família judia que, perante a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, fugiu para a Inglaterra em 1933.

Lucian Freud foi mobilizado para a marinha mercante britânica em 1942 e, alguns meses depois, passou à reserva por razões de saúde, tendo voltado a Londres para continuar - sem mais nenhuma interrupção de outra ordem até hoje - a sua vocação de pintor.

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