Exposição mostra trabalho de Lucian Freud
Não se trata de uma retrospectiva do pintor mas de uma mostra das últimas décadas do trabalho de Lucian Freud, hoje com 88 anos, tendo como fio condutor o tema do atelier, lugar estratégico do trabalho do artista inglês.
"Todas as minhas alegrias foram solitárias. Detesto que me vejam trabalhar", diz Lucian Freud, que desenvolveu toda a sua obra nos seus ateliers londrinos, primeiro em Paddington (ocupou o mesmo estúdio durante três décadas) e mais tarde em Notting Hill.
"Lucian Freud, O Atelier", que está patente no Centro Georges Pompidou até 19 de Julho próximo, inclui meia centena de telas e uma dúzia de ilustrações, além de fotografias do assistente do pintor, David Dawson, e do filme "Small Gestures in Bare Rooms" ("Pequenos Gestos em Quartos Vazios"), do jovem artista inglês Tim Meara.
O retrato e o autoretrato, género central no trabalho de Lucian Freud desde os anos 50, marcam a exposição do Pompidou, que reuniu um número considerável das grandes telas a que o pintor chama "large interiors" e em que o nu é dominante: o nu "animal" e cru de um pintor que gosta de se definir como "biólogo". "O que me interessa verdadeiramente nas pessoas é o lado animal. É por isso que gosto de trabalhar a partir da sua nudez", diz.
"A aura que se liberta de uma pessoa é tanto parte dela quanto a sua carne. O efeito que produzem numa divisão é tão marcante como a sua cor ou o seu cheiro. O efeito produzido no espaço por dois indivíduos pode ser assim tão diferente quanto o efeito de uma vela e de uma lâmpada eléctrica", afirma Lucian Freud no catálogo da exposição.
"O pintor deve, por isso, estar tão consciente da atmosfera como do seu objecto. É através da observação e da percepção da atmosfera que o pintor pode atingir o sentimento que pretende fazer realçar através da sua pintura", acrescenta.
A exposição no Centro Pompidou organiza-se em quatro secções: "Interior/Exterior", "Reflexão", "Reprises" e "As Flesh"("Como a carne").
"A minha concepção do retrato resulta da minha decepção diante dos retratos que se parecem com pessoas, mas não são como elas. Para mim, o quadro é a pessoa", diz Lucian Freud, que desde cedo impôs na sua pintura uma regra de "intensificação do real" na abordagem do corpo, da paisagem urbana (sempre a partir do que é visível dos seus ateliers), dos animais ou das plantas. "Eu quero que a pintura seja carne", resume o pintor.
Lucian Freud, neto do fundador da psicanálise, Sigmund Freud, nasceu em Berlim, a 8 de Dezembro de 1922, numa família judia que, perante a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, fugiu para a Inglaterra em 1933.
Lucian Freud foi mobilizado para a marinha mercante britânica em 1942 e, alguns meses depois, passou à reserva por razões de saúde, tendo voltado a Londres para continuar - sem mais nenhuma interrupção de outra ordem até hoje - a sua vocação de pintor.