Exposição de Carlos Motta revisita passado colonial português sobre sexo e género

Uma exposição do artista colombiano Carlos Motta, resultado de uma investigação ao passado colonial religioso e cultural português sobre políticas de sexo e de género, vai ser inaugurada na terça-feira, em Lisboa, anunciou a organização.
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A exposição, intitulada "Corpo Fechado", tem curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro, é inaugurada às 18:00 na Galeria Avenida da Índia, em Lisboa, e ficará patente até 10 de fevereiro de 2019.

Trata-se do resultado de um projeto de dois anos do artista multidisciplinar, depois de uma investigação por diferentes documentos, fontes, arquivos e instituições portuguesas, incluindo processos da inquisição, visitas a coleções documentais de museus e instituições culturais.

O objetivo da mostra - com obras em filme, fotografia e escultura - foi "criar narrativas críticas alternativas à História ou historiografia oficiais" focalizando-se em "comunidades e identidades com pouca visibilidade".

O trabalho "estabelece relações com histórias de cultura ´queer´ e de ativismo para a constituição de um produtivo entendimento sobre a oportunidade que as políticas de sexo e de género representam na articulação de posições contra a injustiça social e política dominante", indica um comunicado da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC).

Carlos Motta, artista colombiano nascido em 1978 e residente em Nova Iorque, desenvolve nesta mostra uma série de questões que já vem trabalhando desde a sua "Trilogia Nefandus", que procura formar uma perspetiva histórica ´queer´ relacionada com questões coloniais subjacentes.

As obras, segundo a organização, "estabelecem um diálogo com as histórias da expansão colonial portuguesa e espanhola nas Américas, entre o século XV e o século XVIII, focando-se nas formas como estes dois impérios, operando em conjunto com a Igreja Católica, propagaram conceitos repressivos da sodomia e do homoerotismo a partir de rígidas perspetivas legais e morais".

As obras expostas abordam também histórias da escravatura, ao apresentar dois julgamentos por feitiçaria pela Inquisição de Lisboa, e a sua rejeição do sincretismo religioso e dos rituais africanos.

A peça central da exposição é o filme "The Devil's Work" (2018), um poema fílmico de 25 minutos que conta a história de José Francisco Pereira, interpretado pelo ator angolano Paulo Pascoal, um escravo de Judá, Costa da Mina, que foi julgado em 1731 pela Inquisição de Lisboa por feitiçaria e sodomia.

Motta adaptou o julgamento de Pereira interligando-o com passagens da "Carta 31: O Livro de Gomorra" (1049), na qual o seu autor, São Pedro Damião, condena a sodomia como pecado imperdoável, e as considerações de Walter Benjamin sobre o historicismo e o progresso em "Teses sobre a Filosofia da História" (1940).

O filme "revisita a figura moral e legalmente condenada do sodomita enquanto violenta construção histórica e expressão do patriarcado eclesiástico, institucional e colonial".

A exposição apresenta ainda a obra "Trilogia Nefandus" (2013), o primeiro dos trabalhos do artista tendo como tema as histórias homoeróticas pré-hispânicas e coloniais.

Por ocasião da exposição, as Galerias Municipais irão editar um catálogo, a ser lançado em data a anunciar, com textos dos curadores da exposição e ainda de Denise Ferreira da Silva e de Miguel Vale de Almeida.

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