Exportamos a melhor geração de sempre? Mas e quem os formou?
Aquela velha parangona de jornal e queixa de inúmeros empresários de que as universidades andavam sempre de costas voltadas para as empresas há algum tempo que não se ouve. Ou por outra, ainda se vai ouvindo em surdina mas sem qualquer fundamento.
Foi verdade, em tempos, foi muito real e muito pungente. E eu (e outros) enfiei várias vezes a carapuça, em muitas ocasiões públicas do passado, mesmo sabendo que fazia por combater esse estado de coisas. Porém, há muito que isto deixou de ser real. E todos sabem disso. Todos.
As universidades têm feito um papel ao longo dos anos de abertura às empresas e organizações e ao mundo exterior. Têm colaborado em projetos, têm ajudado em consultoria, têm desenvolvido formação de executivos, têm colocado os seus alunos em ambientes reais de formação, têm encaminhado os seus participantes para fazerem teses para endereçar e resolver problemas concretos, têm colocado os seus docentes a debater, formar e procurar encontrar caminhos juntamente com colaboradores de empresas, têm pedido a essas empresas que assegurem programas, que estruturem conteúdos, que participem também em lecionação. Em suma, têm feito de tudo, tudo mesmo, para responder a esta crítica que, hoje, não colhe.
Tudo isto - e muitíssimo mais - foi e tem sido feito mas não ouvi ninguém, ninguém mesmo nestas eleições, falar sobre ensino superior e sobre o que se tem feito em ensino superior para suprir uma carência de sempre e uma observação reiterada e contínua, e diga-se mais que legítima, das empresas. Ninguém falou sobre nós.
É irrefutável que conseguimos um desiderato que foi responder às empresas e organizações e às suas solicitações. E porquê? Porque as empresas e as organizações são o mercado dos nossos formandos, participantes, alunos. E nós, nas universidades, preocupámo-nos muito e fizemos um trabalho gigante para nos adaptarmos ao que os nossos recrutadores nos pediram. Fizemos. E cumprimos.
Cumprimos tão bem que os alunos e participantes que formámos neste momento são facilmente exportáveis. Ultrapassámos tanto esta dimensão pedida que o nosso trabalho é amplamente reconhecido lá fora. Mas sobre isso nem uma palavra.
De outra forma. Estamos a exportar a geração mais bem formada de sempre. Verdade. Isto tem seguramente a sua parte triste. Porém, ninguém disse, porque somos sempre invisíveis, quem fez este trabalho de formação. Que as universidades, num esforço tremendo de adaptação, venceram batalhas e batalhas e olharam para os pedidos do mercado, dos empregadores, e trabalharam sobre eles e para eles.
Neste momento o problema é outro. Formámos e formamos tão bem as pessoas que por nós passaram e passam que os que formámos se tornaram exportáveis. Facilmente exportáveis. Que não encontram lugar aqui porque são bons demais. Que estão de tal forma avançados que todos os países os querem. Que a nossa formação é sólida, é boa, é aplicada, é capaz e, por isso mesmo, os nossos formandos encontram com facilidade lugares fora de Portugal. Porquê? Porque as universidades fizeram o seu trabalho. Sobre isto, nenhum partido político, nenhum, abriu a boca. Só se fala na maior exportação de quadros de sempre e na geração de ouro que tem ido lá para fora. Mas nunca se elevou o cálice e se agradeceu a quem fez este trabalho de formação. Não, não é pena. É totalmente lamentável. Diria mesmo inaceitável.
Presidente do ISCTE Executive Education