Depois de as exportações portuguesas para Angola terem caído 14% entre 2012 e 2016, os primeiros seis meses deste ano trouxeram ventos de mudança à relação económica entre os dois países, historicamente muito próximos a nível comercial. Até 2014, Angola era ainda o quarto maior cliente de Portugal (com 3,1 mil milhões de euros em exportações), passando depois para o sexto lugar da lista e, agora, para oitavo (1,5 mil milhões em 2016)..No entanto, e muito à boleia da abundância típica no período pré--eleitoral, entre janeiro e junho de 2017 Portugal quebrou a tendência e exportou bens no valor de 875,6 milhões de euros, mais 47% do que na primeira metade do ano passado. Um dos maiores saltos registou-se nos produtos agrícolas, com as vendas das empresas portuguesas a chegarem aos quase 150 milhões de euros, 88,5% mais do que em 2016. Luanda quer ver as prateleiras dos supermercados cheias. As exportações de produtos químicos também aumentaram 70%, para os 115,5 milhões, e o calçado bateu todos recordes ao passar de 5,1 para 11,6 milhões, mais 125%..Na opinião de João Traça, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA), "existem condições para que este aumento das exportações para Angola se mantenha além do primeiro semestre", dependendo, claro está, da evolução da economia angolana. "Se o país tiver um problema de escassez de divisas não será possível", salienta o responsável, sublinhando que "o futuro passa muito mais por um aumento dos investimentos em Angola, em setores não relacionados com a indústria petrolífera, do que por uma subida das exportações". Agricultura, rochas ornamentais, metalurgia, entre outros, são os principais setores de aposta identificados pelo presidente da CCIPA..O investimento direto de Portugal em Angola atingiu, em março, um valor acumulado de 3,6 mil milhões de euros, menos 5,4% do que no mesmo mês de 2016 e muito longe dos 4,6 mil milhões registados em dezembro de 2014.."As oportunidades em Angola dificilmente vão passar pela exploração de novos poços petrolíferos. Onde temos possibilidade é em projetos agrícolas ou que visem exportar. É aí que temos know how", diz João Traça. Ainda assim, para a Galp, por exemplo, Angola continua a ser uma das geografias centrais na estratégia da empresa, disse ao DN/ /Dinheiro Vivo fonte oficial, confirmando que o país é "um dos destinos prioritários de investimento". "O histórico da presença da Galp no país e o perfil de longo prazo dos investimentos em curso revelam a confiança neste mercado", refere a mesma fonte. O mesmo acontece com a construtora Casais: "A nossa presença nos mercados de língua portuguesa faz parte da nossa história. Angola é um mercado onde continua a haver necessidade de infraestruturas por isso, independentemente do maior ou menor volume, a nossa presença continua", garante o CEO António Rodrigues..Ao nível das exportações, no entanto, muitas empresas abandonaram o mercado angolano nos últimos anos: mais precisamente 3883 empresas portuguesas que deixaram de exportar para o país entre 2013 e 2016, devido, em grande parte, à dificuldade em repatriarem os seus capitais..Outro sintoma deste "abandono" passa pelo número de empresas que participaram na edição de 2017 da FILDA, maior bolsa de negócios do país - apenas 17, contra as 100 que marcaram presença em 2015, quando Portugal foi o país estrangeiro com maior representação. Apesar de tudo, João Traça mantém-se otimista: "As relações entre Portugal e Angola não começaram nos últimos cinco anos e não vão acabar nos próximos cinco anos. É uma relação de muito longo prazo. É por isso que quando há um aumento das importações de Angola, como agora, Portugal consegue aumentar a sua parte também.".Com R.A.