Exportações de vinho com recorde em 2017
As exportações portuguesas de vinho cresceram 7,5% em 2017 e atingiram, praticamente, os 778 milhões de euros, um recorde absoluto para o setor, que vira a sua trajetória de crescimento interrompida em 2016. Para esta subida muito terá contribuído a recuperação dos mercados de Angola (+40% em valor face a 2016) e do Brasil (+53%). O preço médio manteve-se inalterado nos 2,61 euros. "São dados extremamente positivos e que mostram que os vinhos portugueses continuam a vencer nos mercados internacionais", diz ao DN/Dinheiro Vivo o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho. Frederico Falcão reconhece, no entanto, que "teria sido melhor se o preço médio tivesse acompanhado o crescimento, como aconteceu nos últimos anos", sublinhando que se trata de um "sinal de alerta".
Efetivamente, o preço médio do vinho português caiu em todos os seus cinco principais destinos no mundo: França, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Holanda, variando em 1,4% de perda na Holanda. Curiosamente, é nos países onde vendemos mais barato, como a Alemanha ou Angola, que a quebra do preço médio é maior: 7,9% na Alemanha, para 1,79 euros o litro, e 11,5% em Angola, para 1,72 euros o litro. Significativo é, ainda, o facto de as importações de vinho terem crescido 21,6%, para 133,7 milhões de euros, o que poderá estar relacionado com o crescimento de Angola, país para onde as exportações nacionais de vinho cresceram mais de 58% em volume e quase 40% em valor.
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O vinho do Porto mantém-se como o grande embaixador de Portugal no mundo, contribuindo com 40,1% das exportações nacionais de vinho. Um peso que caiu quase três pontos percentuais face a 2016. Segundo os dados do Instituto da Vinha e do Vinho, as empresas de vinho do Porto exportaram 644 809 hectolitros no valor de 312,1 milhões de euros. Menos 0,9% em volume e mais 0,2% em valor, o que permitiu que o preço médio aumentasse 1,2% para 4,84 euros o litro. "Há uma valorização do produto, o que nos parece um dado interessante", diz o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. "Fomos afetados pela grande quebra do mercado francês que, embora seja um mercado de valor médio relativamente baixo, era o nosso principal mercado. Felizmente, fomos compensados pela subida e valorização noutros mercados, pelo menos em certa medida", frisa Manuel Cabral, que destaca o crescimento em Inglaterra, Brasil, Rússia ou na China. "Temos ainda muito caminho a fazer nesta estratégia de entrada em novos mercados e novos nichos de mercado. Os resultados levam tempo, mas cá continuamos a lutar, todos os dias, pelo nosso espaço nos mercados e nas escolhas dos consumidores em todo o mundo.
A quebra no mercado francês fez que Portugal o destronasse como principal consumidor de vinho do Porto. As vendas no mercado nacional cresceram 6,1% em valor, para 73,7 milhões de euros, compensando parte dos decréscimos verificados no exterior. Uma performance que se prende com a forte dinâmica do turismo em terras lusas e que permitiu que o preço médio do vinho do Porto no mercado nacional se valorizasse em 5,8% para 5,81 euros o litro.
Satisfeito com os números está o presidente da Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes. A região exportou, no ano passado, 26,1 milhões de litros no valor de quase 61,6 milhões de euros e, a par com o Douro, é das que mais exporta. Um crescimento de 2% em volume e de 3% em valor, que permite aos Vinhos Verdes reforçarem o seu preço médio no exterior para 2,35 euros por litro. "Foi um ano bastante bom. As exportações já estão ligeiramente acima dos 50% das vendas da região e crescemos nos principais mercados. Os EUA e a Alemanha estão estabilizados, mas crescemos a dois dígitos no Brasil, Polónia, Espanha ou o Japão. Tal como no Reino Unido, apesar das dificuldades cambiais e do brexit, estamos a crescer muito bem, a dois dígitos também", frisa Manuel Pinheiro.
Para 2018, o presidente da CVRVV lembra que o contexto internacional é este ano especialmente favorável ao vinho português. "Espanha, França e Itália tiveram produções extraordinariamente baixas e a cotação internacional do vinho vai aumentar por via dessa escassez. É um ano em que podemos ser mais competitivos nos mercados externos, sobretudo porque tivemos uma colheita em quantidade e com muito bom vinho", sustenta. Os Vinhos Verdes vão investir 3 milhões de euros em promoção, com uma aposta nova na Dinamarca e um intensificar de ações na Rússia.
Para Arlindo Cunha, presidente da Comissão Vitivinícola do Dão, a chave do sucesso está na "relação imbatível" de preço e qualidade dos vinhos portugueses e que vem, paulatinamente, a ser descoberta pelos mercados internacionais. "O segredo está na melhoria da qualidade das vinhas e do vinho português, graças à aposta no desenvolvimento tecnológico e na melhoria da qualificação, a par de um trabalho consistente de promoção", diz.