Explosões e implosão

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Esperando que o leitor possa não ficar ofendido com o meu desabafo, devo dizer que não tenho nenhuma relação fanática (de fã, entenda-se) com qualquer das séries mais ou menos aventurosas que, com maior ou menor felicidade, têm marcado a produção americana das últimas décadas. Nem mesmo com a saga de Indiana Jones, cujo quarto título (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, 2008) me parece um aparatoso desastre, sem que isso me leve a pôr em causa a importância global de um cineasta, a meu ver admirável, como Steven Spielberg.

Face ao novo Star Trek: Além do Universo, nem sequer discuto, por isso mesmo, a possibilidade de qualquer marca autoral: Justin Lin parece-me apenas um aplicado coreógrafo de artes marciais que não vale a pena tentar aproximar do labor narrativo de um Spielberg (ou mesmo de J. J. Abrams, produtor/realizador ligado ao relançamento de Star Trek, e também de Star Wars).

Tentando, por isso, ficar pelo domínio conceptual do espetáculo - ou, se preferirem, do entertainment, para aplicarmos a terminologia consagrada por Hollywood -, reencontro neste novo Star Trek o mesmo problema que, de uma maneira ou de outra, tem contaminado todas as sagas de heróis e super-heróis. A saber: uma secundarização das componentes dramáticas de cada universo, privilegiando uma profusão de explosões visuais e sonoras que, no limite, dispensa qualquer trabalho inteligente sobre o espaço e o tempo (entenda-se: os valores primordiais do cinema).

Spielberg e George Lucas já chamaram a atenção para o risco de implosão que, através de um crescimento irracional dos orçamentos, ameaça Hollywood. Podemos perguntar se, perversamente, ambos não foram agentes ativos de tal processo - em todo o caso, isso não exclui a justeza da sua chamada de atenção.

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