Êxodo Iraque-Síria e recorde de salvamentos no Mediterrâneo
"Pensem nisto: há refugiados a fugir para a Síria", sublinha Melissa Fleming, porta-voz da agência da ONU para os Refugiados (ACNUR). De acordo com dados divulgados ontem pelo Alto Comissariado das Nações Unidas, apenas no mês de maio houve mais de 4600 iraquianos em fuga de Mossul, cidade controlada pelo Estado Islâmico, que procuraram refúgio em território sírio, país que continua assolado pela guerra. O ACNUR estima que o número de pessoas em trânsito do Iraque para a Síria possa ascender a 50 mil nos próximos meses.
"Houve um crescimento muito significativo no número de pessoas que arriscam a perigosa travessia para a Síria numa tentativa desesperada. A causa para esta fuga é a iminência da batalha por Mossul. Eles sabem o que se está a passar em Fallujah e querem fugir antes que se vejam numa armadilha semelhante", afirmou Fleming à imprensa.
Tal como explica a agência Reuters, Fallujah foi a primeira cidade iraquiana, em janeiro de 2014, a ser capturada pelo Estado Islâmico (EI). Recentemente as forças governamentais iraquianas lançaram uma ofensiva para a recuperar e isso terá levado o EI a responder executando homens e crianças.
O Mediterrâneo continua também a ser palco de uma profunda crise migratória. Milhares de pessoas, fugidas do Médio Oriente e da África Subsariana, não desistem de tentar a travessia para a Europa.
A última semana foi particularmente agitada, com mais de 14 mil resgatados do mar e com estimativas que apontam para centenas de mortos. Na quinta-feira apenas, a guarda costeira italiana anunciou o resgate de mais de quatro mil pessoas em 22 operações de salva-sublinhou Cosimon Nicastro, porta-voz das autoridades transalpinas, referindo que os máximos anteriores rondavam as cinco ou seis mil pessoas num espaço de dois dias.
Até agora, ainda antes de contabilizar os salvamentos desta semana, ascendem já a 40 mil os migrantes que neste ano foram resgatados do Mediterrâneo, informou Barbara Molinario, da delegação italiana do ACNUR.
Nesta semana pelo menos 20 pessoas morreram a tentar chegar à Europa, juntando-se às 13 vítimas já registadas em maio. Ainda assim, estes números representam um decréscimo face ao mesmo mês nos anos anteriores: 95 em 2015 e 330 em 2014. A organização Internacional para as Migrações justifica este declínio pelo reforço das patrulhas ao longo da costa norte-africana.
Precisamente nesse sentido, David Cameron anunciou ontem a intenção de enviar para a Líbia um navio de guerra com o objetivo de controlar o contrabando de armas e de intimidar os traficantes de pessoas. "Devido à situação em que se encontra é um país representa um perigo. Temos interesse em fazer o que nos for possível para auxiliar o governo líbio", afirmou o primeiro-ministro britânico.
Interrogados
Ainda no que à crise migratória diz respeito, muitos dos refugiados que entretanto conseguiram chegar à Europa têm vindo a ser interrogados. O objetivo das autoridades é recolher testemunhos que permitam deduzir acusações por crimes de guerra cometidos na Síria e no Iraque. Segundo a agência Reuters, a polícia alemã já compilou declarações de centenas de potenciais testemunhas e alguns refugiados foram interrogados exaustivamente pelos procuradores.
Muitas vozes têm pedido a constituição de um tribunal internacional para a Síria e para o Iraque - à semelhança do que se passou para a ex-Jugoslávia - mas devido a divisões entre membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas que detêm direito de veto, como é o caso da Rússia, aliada do regime sírio, até agora tal não foi possível.