Excessivo, só na produção e exportação de vinhos de excelência
Vieram recentemente a público dados sobre o consumo per capita de vinho nos vários países do mundo, divulgados pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). E, de acordo com dados dessa Organização, foi desde 2017 que o nosso país passou a ser um dos maiores consumidores per capita de vinho. Por diversas vezes temos ouvido e lido que os portugueses consomem excessivamente vinho, mas serão mesmo os portugueses ou será no território nacional? Considero muito importante desmistificar e explicar um pouco esta percepção em relação ao consumo de um produto, que começo desde logo por salientar, que desde sempre tem feito parte da nossa dieta mediterrânica - considerado uma parte integrante de uma alimentação equilibrada e por muitos aconselhada.
Quando colocados infograficamente ou vistos de forma isolada, ter Portugal com um consumo de 67,5 litros por ano per capita em 2022 (segundo dados da OIV - consumo per capita da população acima dos 15 anos), pode parecer indiciar um consumo excessivo de vinho por parte dos portugueses, mas não corresponde à realidade. Ainda que fossem só os portugueses a consumir, estaríamos a falar, em média, em 0,18 cl/dia por cada cidadão português. Mas vejamos como surgem estes números: em Portugal são calculados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e têm em consideração as existências de vinho nas adegas a 31 de julho, a produção de vinho na campanha seguinte (agosto/setembro), o vinho que é exportado após o 31 de julho, o que é destilado, o que segue para a indústria do Vinagre e a existências no dia 31 de julho do ano seguinte.
Contas feitas, a diferença é o que se estima ter sido consumido no território nacional. Saliento "território nacional" e não vinho consumido por portugueses e esta questão é fundamental para analisar o tão referido consumo "excessivo". Creio que todos os portugueses têm perfeita consciência do incremento do turismo no nosso país nos últimos anos. Também todos os que viajam conhecem bem o enorme custo de beber vinho na maioria dos restantes países no mundo. É também fácil de entender que, em Portugal, os turistas ficam surpreendidos pela qualidade e pela relação qualidade-preço
dos nossos vinhos, levando-os a consumir mais vinho do que nos seus países de origem. Este efeito do Turismo pode ser bem visível quando comparamos o aumento do turismo em Portugal com o aumento do consumo total de vinho no país. De facto, estes dois fatores andam cada vez mais ligados, até porque, por exemplo, o enoturismo tem vindo a crescer exponencialmente. Sempre que Portugal regista um aumento de turistas o consumo de vinho também aumenta.
É também muito importante lembrar que o sector vitivinícola tem uma forte preocupação com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, e obviamente o vinho não é excepção. Por essa mesma razão, o sector lançou em 2008 a iniciativa "Wine in Moderation" que conta já com 15 países europeus e agrupa produtores de vinho de toda a União Europeia em campanhas que visam promover o consumo moderado de vinho. Este movimento do "Wine in Moderation" pretende afirmar o sector do vinho como um sector responsável, actuando de forma construtiva e atenta.
Temos também vindo a assistir a algumas mensagens públicas de que "não há consumo seguro". Contra todas as evidências científicas que se conhecem, há uma agenda oculta para atacar todas as bebidas alcoólicas, sem distinguir tipo de bebida ou quantidades consumidas.
Sim, o consumo abusivo deve ser atacado, mas tal não significa que também se deva atacar o consumo moderado de vinho. As centenas de estudos que associam o consumo moderado de vinho, juntamente a uma dieta saudável, a benefícios na saúde, estão aí para nos ajudar a separar o trigo do joio e a separar a ciência do fundamentalismo...
Somos excessivos sim, mas na produção de vinhos portugueses de excelência, não no consumo. Penso que os portugueses sabem cada vez mais valorizar e apreciar um bom vinho e isso faz-se com moderação e não com excessos.
(Presidente ViniPortugal)