"Admiro a sabedoria e a firmeza com que Guterres comunica as suas ideias"
Já teve oportunidade de falar com António Guterres desde que ele foi eleito secretário-geral das Nações Unidas?
Claro que sim. Recebi a notícia do resultado da votação do Conselho de Segurança da ONU a bordo do avião para os Estados Unidos. A primeira coisa que fiz foi um tweet de regozijo e, em seguida, contactei imediatamente Guterres para lhe transmitir os meus sinceros parabéns. Depois disso tivemos também oportunidade de falar pessoalmente.
Quais pensa serem as qualidades de Guterres que farão dele um bom secretário-geral da ONU?
A sua personalidade e a sua experiência profissional. Admiro a paixão dele pela ONU. A sabedoria e a firmeza com que ele comunica as suas ideias e a forma como aborda até as tarefas mais difíceis. Sendo um político e diplomata com uma vasta experiência e uma excelente orientação em ambientes multilaterais, promete trazer o equilíbrio e o poder convocatório que abram caminho para soluções que nós, como comunidade internacional, tanto precisamos.
Surpreendeu-o a liderança do português Guterres desde o início do processo eleitoral?
Na verdade, não. Ele é um excelente diplomata e gestor e já conhecemos as suas qualidades há muito tempo; pudemos acompanhar o seu trabalho nos importantes lugares que ocupou anteriormente.
Pensa que se os outros candidatos da Europa de Leste tivessem desistido mais cedo, o senhor poderia ter vencido?
O processo de seleção já terminou. Analisar agora cenários do género "e se?" seria pura especulação e eu prefiro não me envolver nisso.
Como avalia as pressões para eleger a primeira mulher como secretária-geral?
Era e continua a ser um argumento válido. O princípio da igualdade de género significa oportunidades iguais: um acesso equitativo a educação, empregos, incluindo cargos diretivos de topo e condições de trabalho. Respeito mútuo e não discriminação.
A Eslováquia ganhou protagonismo internacional graças à sua candidatura a secretário--geral?
Sem dúvida. A visibilidade da Eslováquia aumentou graças ao facto de o país ter o seu candidato na corrida. Durante a campanha visitei países e encontrei-me com representantes de nações onde a Eslováquia não estava muito presente ou não tinha muita visibilidade no passado. A nossa diplomacia fez um trabalho muito bom na promoção da candidatura e acredito que a campanha contribuiu positivamente para a conscientização internacional sobre a Eslováquia e o seu envolvimento ativo nas relações internacionais através da sua diplomacia - que se baseia na crença firme na cooperação multilateral, nos valores, no respeito pelo direito internacional e pelos direitos humanos.
Tem uma carreira internacional muito bem-sucedida. Vê-se como candidato a outros cargos internacionais no futuro?
Pus sempre em primeiro lugar os resultados do meu trabalho atual, à frente de quaisquer ambições em relação a um possível trabalho futuro. Fui diplomata toda a minha vida profissional - é o meu trabalho, a minha paixão e vejo-o também como a minha missão: usar as minhas capacidades e experiência em benefício do meu país e da comunidade internacional. A propósito, este foi o primeiro cargo para o qual eu me candidatei de forma proativa. Todos os meus cargos anteriores foram-me oferecidos :).
Como gostaria que fosse a evolução das Nações Unidas nos próximos dez anos?
Gostaria de ver a ONU como uma verdadeira pedra angular do multilateralismo e como garante da paz e da prosperidade. Uma organização eficaz e confiável, capaz de cumprir os seus mandatos. Uma ONU que as pessoas respeitem e em que confiem. Creio que devemos ir mais além da proteção da humanidade dos conflitos e das guerras. Hoje em dia isso não é suficiente. Temos de construir um planeta sustentável e um mundo justo onde todas as pessoas vivam em paz e com dignidade.
Apesar do episódio da candidatura de Kristalina Georgieva perto do fim do processo eleitoral, apreciou a nova transparência do Conselho de Segurança na eleição do secretário-geral?
Houve vários elementos novos no processo de seleção do secretário--geral desta vez. Houve mais transparência, inclusão e democracia. As sessões informais (audiências públicas) na Assembleia Geral permitiram que os candidatos apresentassem publicamente as suas visões. Este processo aproximou a ONU das pessoas e, acredito, também aproximou as pessoas da ONU, pois aumentou incrivelmente o interesse e a confiança do público em geral na ONU. Posso dizer que este processo de seleção foi um passo em frente. Um passo na direção certa. E espero que continuemos nesta tendência de modernização da ONU, para a tornar verdadeiramente "adequada à finalidade" e "amiga do utilizador".