Ex-presidente Park condenada por corrupção não será indultada

Tribunal considerou provado que a chefe do Estado entre 2012 e finais de 2016 ameaçou executivos de empresas para estes financiarem projetos da mentora, Choi Soon-sil.
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Foi o quarto presidente da Coreia do Sul sob investigação por corrupção e o terceiro chefe do Estado do país com condenação a longa pena de prisão. Para Park Geun-hye, de 66 anos, é o fim penoso de uma carreira política, quase sempre preenchida por sucessos, e de um trajeto pessoal marcado pelos assassínios da mãe, em 1974, e do pai, em 1979.

Além de corrupção, Park Geun-hye, primeira mulher eleita presidente da Coreia do Sul, por uma esmagadora vitória em 2012, era acusada de suborno, coerção e abuso de funções públicas.

Park foi condenada a 24 anos de prisão e a uma multa equivalente de 16,8 milhões de dólares num caso em que se revelaram ligações ilegais entre os líderes políticos e algumas das principais empresas do país, conhecidas como chaebols. Designadamente, o gigante da eletrónica Samsung, o SK, com interesses desde a construção naval à eletrónica, e o conglomerado nipónico-sul-coreano Lotte, presente nas áreas do retalho, eletrónica e petroquímica.

Em paralelo com Park, foram julgados o seu chefe de gabinete, Kim Ki-choon, e o secretário político e ministro da Cultura, Cho Yoon-sun, condenados a quatro e dois anos de prisão.

O tribunal considerou a presidente, destituída em dezembro de 2016, culpada de conluio com a amiga de longa data e mentora Choi Soon-sil para esta receber mais de seis milhões de dólares do grupo Lotte e da Samsung e mais de sete milhões de dólares da SK. Em relação com o caso, mas em processos separados, os responsáveis máximos da Samsung e da Lotte foram condenados a penas de prisão. No processo da Samsung, o tribunal considerou que "Park ameaçou os executivos" e estes "entregaram as verbas sabendo que era para financiar a preparação" da filha de Choi, Chung Yoo-ra, cavaleira de alta competição, e fundações de Choi. Chung, de 21 anos, está a ser alvo de investigação da justiça sul-coreana.

Por seu lado, e também num processo autónomo, Choi foi condenada a 20 anos de prisão e a uma multa equivalente a mais de 16 milhões de dólares em fevereiro passado.

Na sentença, o tribunal sublinha que, "enquanto chefe de Estado, Park ignorou as suas responsabilidades e abusou do poder para desestabilizar o país, o que mostra total desrespeito pelos cidadãos que a elegeram presidente. Pior ainda, negou as acusações que lhe foram dirigidas, o que é inapropriado". A ex-presidente, que não esteve presente na leitura da sentença como não tem participado nas sessões do tribunal desde outubro passado, tem uma semana para interpor recurso. Os seus apoiantes vieram ontem para as ruas em Seul, manifestando-se contra o julgamento, que consideram "injusto", e pedindo "vingança".

O caso de Park é o mais recente de uma longa série de antigos presidentes que, após cessarem funções, foram acusados de corrupção e abuso de poder. Tal sucedeu a Chun Doo-hwan (no poder entre 1980 e 1988), condenado por corrupção e abuso de poder no massacre de Gwangju em 1980, o mesmo sucedendo a Roh Tae-woo (no poder entre 1988 e 1993). Também Roh Moo-hyun (no poder entre 2003 e 2008) estava a ser investigado por corrupção, quando se suicidou em maio de 2009. Os dois primeiros foram indultados em 1996 pelo então presidente Kim Young-sam. O atual detentor do cargo, Moon Jae-in, quando tomou posse, prometeu acabar com a prática de indultos presidenciais nos casos de corrupção.

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