Ex-pivô da Fox News é a nova embaixadora dos EUA na ONU
Quase três meses depois de Donald Trump anunciar a demissão de Nikki Haley como embaixadora dos EUA na ONU, a ex-governadora da Carolina do Sul, filha de imigrantes indianos, deixa o cargo esta segunda-feira dia 31. Questionada sobre os motivos, Haley, de 46 anos, falou em razões pessoas e negou ter ambições presidenciais para 2020.
Na altura o presidente republicano multiplicou-se em elogios para falar dela e descreveu-a como sendo muito especial. "Agora os EUA são respeitados. Os países podem não gostar do que fazemos, mas respeitam o que fazemos, sabem que se dizemos que vamos fazer algo, que vamos fazê-lo", disse Haley que, entre outras coisas, negociou uma série de sanções à Coreia do Norte, defendeu o fim do acordo nuclear com o Irão e liderou a saída dos EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Para o seu lugar vai agora no início do ano que começa Heather Nauert, ex-jornalista, que foi pivô na Fox News, das poucas estações televisivas que Trump não acusa a toda a hora de espalhar Fake News. Natural do Illinois, com 48 anos, Nauert passou também pela ABC News e, desde 2017, integra a Administração Trump. Primeiro como porta-voz do Departamento de Estado e depois como sub-secretária de Estado para a Diplomacia e as Relações Públicas. Não tendo sido muito próxima de Rex Tillerson, tornou-se da confiança do seu sucessor, Mike Pompeo.
Mãe de dois filhos, casada com um executivo financeiro de Morgan Stanley, que já passou pela UBS e Goldman Sachs, Heather Nauert tem pouca ou quase nenhuma experiência em assuntos diplomáticos ou em política internacional. David Bosco, autor de 'Five to Rule Them All: The UN Security Council and the Making of the Modern World', disse, citado pela Foreign Police, que a falta de experiência de Nauert, nos dois níveis, fará dela "a pessoa menos qualificada e com menos experiência que já tivemos como embaixadora dos EUA na ONU".
"Nós já tivemos alguns gigantes políticos e diplomáticos a ocupar este cargo na ONU. Mas também tivemos uma série de pessoas, como por exemplo Jeane Kirkpatrick, que não tinham experiência diplomática prévia a esse nível. Até Madeleine Albright, apesar da sua experiência no mundo político, não tinha assim uma experiência muito grande. Mas todos os que ocuparam este cargo tiveram, pelo menos, algum background político sério e background de política externa sustentável", sublinhou a mesma fonte à mesma publicação especializada em política internacional.
A Foreign Policy cita também um diplomata sénior norte-americano, que recentemente foi apresentado a Heather Nauert num jantar, em Nova Iorque, dizendo que ela "é uma boa relações públicas" que conhece "os tópicos principais". Mas, notou, "quando alguém lhe fazia uma questão à qual ela não sabia responder ela dizia que não sabia mas que faria chegar a resposta mais tarde. Isso é o tipo de coisas que fazem as pessoas de relações públicas. São treinadas para isso. Ela é esperta, sofisticada, mas não é alguém que, em termos políticos, possa ser comparada por exemplo a John Bolton". Este é o atual conselheiro de Segurança Nacional de Trump e foi embaixador dos EUA na ONU no tempo de George W. Bush.
Segundo o Politico.com, com quem a nova embaixadora se recusou a falar, a estratégia a usar com Nauert será a mesma: sessões de preparação para interrogatórios, de 90 minutos, com pessoas que fazem de senadores e colocam perguntas, mais toneladas e toneladas de documentos para ler e de trabalho de casa para fazer. De acordo com uma fonte ouvida pelo site norte-americano os funcionários da Administração Trump estão também a preparar táticas para melhor conseguir familiarizar Nauert com a maior organização intergovernamental do mundo. Liderada, atualmente, pelo português António Guterres.
"Não há nada de racional na nomeação de Nauert pelo presidente para a ONU", disse Harry Kazianis, republicano e diretor de estudos de defesa do Center for National Interest, num artigo datado do dia 8, sublinhando que a ex-jornalista carece de "experiência diplomática ou de experiência de alto nível em assuntos mundiais".
"Acho, claro, que ela tem capacidades para desempenhar bem o cargo. Mas se tem conhecimentos de política externa a um nível que lhe permite desempenhar de forma bem sucedida o cargo nas Nações Unidas? Não sei", admitiu o senador Marco Rubio, republicano, eleito pela Florida, no programa Face the Nation da CBS News.
Tendo sido um dos poucos membros da Administração Trump a falar do genocídio dos muçulmanos Rohingya na Birmânia e dos voluntários do grupo dos Capacetes Brancos que atuam no meio da guerra na Síria, Nauert terá pela frente desafios como a guerra comercial de Trump, sobretudo com a China, mas que pode muito bem não ficar só por aí, a eventualidade de uma nova cimeira entre o presidente norte-americano e o presidente da Coreia do Norte Kim Jong-un, o comportamento revanchista da Rússia liderada por Vladimir Putin e a sua pressão sob os países da Europa de Leste ou até a súbita retirada de tropas norte-americanas da Síria e do Afeganistão anunciada por Trump.