Ex-ministro de Lula e de Dilma preso na Lava-Jato
A Operação Lava-Jato voltou a focar-se no Partido dos Trabalhadores (PT), da presidente afastada Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula da Silva, depois de nas últimas semanas ter incidido no Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), do presidente interino Michel Temer. Paulo Bernardo, que ocupou as pastas do Planeamento (no governo Lula) e das Comunicações (no governo Dilma), foi detido sob acusação de crimes como corrupção passiva ou lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Custo Brasil, um desdobramento da 18.ª fase da Lava-Jato, que investiga o escândalo do petrolão.
"A prisão é ilegal", afirmou em nota Paulo Bernardo, marido da senadora Gleisi Hoffmann, também do PT e também citada.
A operação investiga o pagamento de subornos em contratos de prestação de serviços de empresas de informática no valor de cem milhões de reais, pouco mais de 25 milhões de euros, entre 2010 e 2015, a pessoas ligadas ao Ministério do Planeamento, que depois serviriam para financiar campanhas eleitorais. "Segundo se apurou, 70% dos valores recebidos pela empresa Consist eram transferidos para pessoas ligadas a funcionários ou a agentes públicos com influência no Ministério do Planeamento por meio de outros contratos - fictícios ou simulados", disseram em conferência de imprensa delegados da polícia federal.
Os crimes em causa na investigação são corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influências e organização criminosa e podem resultar em penas de dois a 12 anos de prisão. A operação emitiu 65 mandados em quatro estados do país e no distrito federal, sendo 11 deles de prisão preventiva, e deriva do depoimento de Alberto Yousseff, um dos principais delatores do Petrolão, que revelou ter entregado verbas para a campanha de Hoffmann, a mulher de Bernardo, a pedido deste.
Além de Bernardo, que negou qualquer irregularidade através dos seus advogados, também Carlos Gabas, ministro da Previdência de Dilma, foi alvo de buscas e apreensão na operação. Entre os visados na Custo Brasil estão ainda um jornalista de um blogue, Brasil 247, ligado ao PT, um secretário do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também do PT, e Vaccari Neto, o ex- tesoureiro petista que já cumpre pena em Curitiba.
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal acolheu, por unanimidade, nova denúncia contra Eduardo Cunha (PMDB), presidente afastado da Câmara dos Deputados, que passa a ser réu em duas ações ligadas à Lava-Jato, desta vez por manter contas secretas na Suíça abastecidas por desvios da Petrobras. Com o deputado cada vez mais fragilizado, intensificam-se as movimentações para eleger o seu sucessor na presidência da Câmara, com três blocos em competição: os da "velha oposição", liderada pelo Partido da Social Democracia Brasileira, os do centrão, grupo de partidos que rodeia o PMDB, e da nova oposição, sob o comando do PT.
Outra operação policial, a Turbulência, que investiga irregularidades na campanha de Eduardo Campos, candidato à presidência em 2014 que morreu num desastre de avião três meses antes das eleições, foi ontem abalada pela morte de Paulo César Morato. Morato era o único dos cinco membros da organização criminosa, acusada de financiar ilegalmente a campanha de Campos, que se encontrava foragido. Segundo as primeiras informações, não havia marcas de violência no quarto de um motel perto de Olinda, em Pernambuco, onde foi encontrado o corpo. A advogada de Morato acrescentou que o seu cliente havia tentado o suicídio recentemente.
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São Paulo