Um ex-guerrilheiro tupamaro, José Mujica, de 74 anos, é o grande favorito à vitória nas presidenciais uruguaias, que hoje levam mais de 2,5 milhões de eleitores às urnas. A coligação de esquerda, Frente Ampla, quer tentar repetir os resultados de Tabaré Vázquez há cinco anos. Contudo, Pepe, como é conhecido, não deverá conseguir impedir a segunda volta, prevista para 29 de Novembro, contra o ex-presidente Alberto Lacalle, do Partido Nacional (centro-direita). .A aposta na continuidade da política do actual presidente - cuja popularidade é de 62% - marca a candidatura de Mujica. Isto apesar de, no espectro político, este se situar muito mais à esquerda. O fundador do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaro, nos anos 1960, teve apenas de garantir que não iria mexer no plano económico deixado por Vázquez (que afastou a crise do país). .Mujica lembra que o seu modelo político é o do brasileiro, Lula da Silva, negando qualquer semelhança com o venezuelano Hugo Chávez. Há contudo eleitores que têm dúvidas diante um eventual presidente que passou 13 anos na prisão por causa dos anos de guerrilha e que fala e se apresenta como o povo. .Por seu lado, Lacalle já esteve na presidência (1990-1995) e o seu mandato ficou marcados pelo bom desempenho económico do Uruguai. Ainda assim, os críticos lembram que os seus assessores acabaram por ser acusados de corrupção . As sondagens dão ao candidato de 64 anos 30% dos votos, contra 45% de Mujica. .Afastado da vitória está Pedro Bordaberry, filho do ex-ditador Juan María Bordaberry (perseguido pela justiça uruguaia). Ainda assim, o Partido Colorado (que governou o país durante a maior parte do século XX) poderá cantar vitória, depois do revés de há cinco anos, quando não foi além dos 10% dos votos. As sondagens dão perto de 15% a Bordaberry. .Num país em que o voto é obrigatório, todos os candidatos estão a apostar nos indecisos (entre 7 e 11%). Mujica porque ainda tem esperança de conseguir a vitória à primeira, Lacalle porque a quer evitar e espera vir a surpreender na segunda volta, e os restantes candidatos porque querem que os seus partidos tenham maior representação no Parlamento - estas são também legislativas. .Vázquez contava com a maioria absoluta no Parlamento (tinha ganho à primeira volta), mas de acordo com os analistas, a Frente Ampla não terá problemas em governar se esta não acontecer. .Além de votarem nas presidenciais e nas legislativas, os eleitores são chamados hoje a pronunciar-se em dois referendos. Um deles visa a anulação da lei que amnistiou os polícias e os militares dos crimes cometidos durante a ditadura (1973-1985), promulgada pelo presidente Julio María Sanguinetti em 1986 e ratificada numa consulta popular em 1989. O outro referendo é para autorizar o voto por correspondência dos uruguaios que vivem no estrangeiro.