Ex-dirigente da Funai do Brasil diz que foi demitido por discordar com indicações para cargos
"Eu não permiti e jamais poderia permitir [indicações políticas] porque a Funai é composta de cargos técnicos e de servidores escolhidos por concurso. Eu jamais poderia deixar entrar na instituição pessoas que não têm nenhum compromisso com as causas indígenas", declarou aos jornalistas António Costa, citado pelo portal de notícias brasileiro G1.
De acordo com o G1, quando questionado pelos jornalistas sobre quem teria feito indicações políticas para cargos dentro da Funai, António Costa disse que a interferência partiu, inicialmente, do líder do Governo no Congresso, mas não quis mencionar o nome do deputado André Moura.
"Eu não atendi a essas indicações e jamais atenderia porque o meu compromisso é com as políticas indígenas e com os servidores da Funai", sublinhou.
"Eu prefiro não citar o nome do líder do Governo, mas a imprensa já divulgou o nome dessa pessoa que me pediu para fazer coisas que eu não poderia cumprir", afirmou o ex-presidente da Funai.
Além de acusar o líder do Governo no Congresso de tentar fazer indicações políticas para a Funai, António Costa também declarou que foi demitido do comando da fundação porque é "honesto" e não se curvou para fazer o "malfeito".
Costa ponderou que os cortes no orçamento da Funai podem aumentar os conflitos entre fazendeiros e indígenas nos próximos meses.
O ex-presidente da Funai também fez críticas ao ministro da Justiça, Osmar Serraglio, acusando o titular da pasta, que é ligado ao setor agropecuário brasileiro, de estar a ser o ministro de "uma causa que defende".
Em nota, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, afirmou hoje que António Costa foi demitido por problemas de gestão e também por ter quebrado a hierarquia ao criticar publicamente ações determinadas pelo Governo.
No comunicado divulgado à imprensa, Serraglio justificou a demissão do presidente da Funai dizendo que o órgão de assistência aos índios "necessita de uma atuação mais ágil e eficiente", o que, segundo o Governo, "não vinha acontecendo".
A demissão de António Costa, assinada pelo chefe da Casa Civil do Governo, Eliseu Padilha, foi publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União".
O Governo ainda não anunciou quem irá assumir o comando da Funai, fundação responsável pela coordenação da política indigenista do Executivo brasileiro.
A Funai teve o seu orçamento reduzido em mais de 40% este ano e o Governo também retirou funcionários do organismo de zonas de tribos isoladas, nomeadamente na Amazónia.
Recentemente, pelo menos 13 índios ficaram feridos, três dos quais em estado grave, após terem sido atacados por homens armados durante conflitos por terras no Brasil.