Ex-conselheira de Trump não gravou só o despedimento. E isso preocupa Washington
"Esta é uma Casa Branca em que toda a gente mente" e "se não tivesse estas gravações, ninguém na América ia acreditar em mim", disse a antiga conselheira de Donald Trump, Omarosa Manigault Newman, justificando o facto de ter gravado várias conversas durante o tempo em que trabalhou na Casa Branca.
Uma das gravações, feitas no smartphone, é do momento em que foi demitida pelo chefe de gabinete, John Kelly, na Situation Room, o local alegadamente mais seguro no número 1600 da Pennsylvania Avenue, em Washington. A conversa decorreu em dezembro de 2017, com Omarosa (como é conhecida) a deixar a Administração em janeiro.
"Chegou ao meu conhecimento nos últimos meses que houve algumas questões, na minha opinião, significativas a nível de integridade relacionadas contigo", ouve-se Kelly dizer na gravação, que Omarosa passou no programa Meet the Press, domingo à noite, na NBC. Em causa o seu uso dos carros do governo e outros "assuntos de dinheiro", que compara a ofensas que, caso fosse militar, a levariam a tribunal marcial (Kelly é um general retirado).
"Se fizermos disso uma saída amigável, podes olhar para o teu tempo aqui na Casa Branca como um ano de serviço à nação e depois continuar sem qualquer tipo de dificuldade no futuro em relação à tua reputação", diz o chefe de gabinete à então conselheira de Trump. "Há alguns assuntos legais que têm sido violados e estás sujeita a algum tipo de ação legal que esperamos, pensamos, podemos controlar", acrescenta, numa conversa que Omarosa considerou uma ameaça.
A antiga participante do programa "O Aprendiz", que era produzido por Trump, esteve no Meet the Press para promover o seu livro "Unhinged" ("Desvairado"), cuja saída está prevista para 14 de agosto. No livro, a antiga encarregada do Gabinete de Relações Públicas (a única afro-americana a trabalhar na Casa Branca ) acusa o presidente de ser "racista, intolerante e misógino".
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, reagiu à gravação com um comunicado: "A ideia de um funcionário infiltrar um dispositivo de gravação na Situation Room na Casa Branca mostra um flagrante desrespeito pela nossa segurança nacional - e depois gabar-se disso na televisão só prova ainda mais a falta de caráter e integridade dessa descontente ex-funcionária da Casa Branca."
É na Situation Room que as principais decisões sobre política externa são tomadas e os funcionários da Casa Branca não podem entrar no espaço com telemóveis ou gravadores. Não são revistados à entrada, mas existem sinais com avisos.
Se a gravação na Situation Room levanta questões em relação à segurança nacional, o facto de Omarosa ter outras gravações, incluindo do presidente, deixa várias pessoas preocupadas. Estas gravações terão servido de base ao seu livro e a ex-conselheira terá mostrado algumas quando andava à procura de uma editora para o publicar.
"As pessoas agora percebem que ela tem muitas coisas", disse um antigo oficial da Casa Branca, sob anonimato, à ABC News. "Está a impedir que as pessoas respondam", acrescentou, dizendo que existe receio de que as suas conversas acabem por ser divulgadas. "Se chatearam a Omarosa, preparem-se, vão ser umas semanas difíceis", referiu.
Segundo o mesmo canal de televisão, a Casa Branca estará a estudar todas as hipóteses legais para evitar que divulgue mais gravações, assim como para a punir por ter secretamente gravado Kelly.
Esta não é a primeira vez que as gravações de Omarosa chamam a atenção, mas em fevereiro de 2017 o seu alvo tinham sido os jornalistas.