Europeus tentam salvar acordo nuclear e Trump ameaça Teerão
Os ministros dos Negócios Estrangeiros francês, alemão e britânico vão encontrar-se no início da próxima semana com o seu homólogo iraniano para analisar formas de manter o acordo sobre o programa nuclear de Teerão, denunciado na terça-feira pelo presidente Donald Trump.
O encontro foi anunciado ontem após uma conversa telefónica entre os presidentes Emmanuel Macron, de França, e Hassan Rouhani, do Irão, com o Eliseu a indicar que foi abordada a questão do programa nuclear após 2025, o desenvolvimento de mísseis balísticos pelo regime de Teerão e a sua atuação no Médio Oriente. Ao mesmo tempo, dirigentes iranianos, como o presidente do Parlamento, Ali Larijani, deixavam no ar a possibilidade de Teerão denunciar também o acordo dentro de "algumas semanas". Falando na sessão em que alguns deputados queimaram uma bandeira dos Estados Unido de papel enquanto gritavam "Morte à América", Larijani pediu aos europeus "que se mostrem capazes de responder às nossas preocupações". Segundo Larijani, "a nação iraniana provou que escolhe primeiro a via do diálogo e das soluções para resolver os problemas". Por outro lado, o dirigente iraniano, citado pela agência Mehr, tornou claro que, a não verificarem-se as garantias europeias, Teerão deixará de se considerar vinculado ao acordo assinado em 2015. A União Europeia garantiu que as sanções permanecerão suspensas desde que o Irão cumpra o que se encontra estabelecido no acordo.
Ainda em Teerão, numa intervenção na Universidade de Farhangiaan, o Líder Supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, além de palavras duras para com os EUA disse "não confiar nesses três países" (Alemanha, França, Grã-Bretanha) e pediu "garantias definitivas" ou o Irão "não poderá permanecer" vinculado ao acordo. Logo após o anúncio de Trump, quer o presidente iraniano quer o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, tinham-se pronunciado pela continuação do país no acordo, que foi igualmente assinado pela China e pela Rússia. Mas ambos, tal como Larijani, sublinharam a importância de receberem "garantias" dos europeus.
Para o ayatollah Khamenei o que está em causa não é sequer o programa nuclear, que considerou indispensável para a produção de energia elétrica, é "animosidade contra a República Islâmica". E deu como exemplo "a nossa presença na região e o programa de mísseis". Para Khamenei, se o Irão ceder nestas questões, "encontrarão outras coisas" como pretexto para antagonizar o regime.
E parecendo dar razão ao líder iraniano, o presidente americano, falando ontem em Washington, afirmou ontem que a denúncia do acordo, a reintrodução das sanções vigentes antes de 2015 e a imposição de outras novas visa levar o Irão a novas negociações ou "acontecerá alguma coisa". Trump não deixou claro ao que se estaria a referir nem aceitou elaborar sobre o tema. Mas o tom de ameaça era evidente.