Europa sem sinal da sua sonda Schiaparelli em Marte

Módulo de aterragem da ExoMars mergulhou na atmosfera marciana à hora prevista, mas o sinal perdeu-se pouco depois, e não houve mais contacto. Será um segundo fracasso?
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Deveriam ter sido dois os momentos de aplauso no ESOC, o centro de controlo da ESA, em Darmastadt, na Alemanha, mas os técnicos e responsáveis da agência espacial europeia só por uma vez se levantaram, entusiasmados, das cadeiras. Foi na altura em que nos monitores surgiu o sinal claro a indicar que a sonda orbital da missão ExoMars, a TGO (de Trace Gas Orbiter), estava de boa saúde e na órbita do planeta. Do módulo de aterragem Schiaparelli, porém, não chegou ainda qualquer sinal. Tudo indica, pelo menos para já, que o fracasso europeu de há 13 anos, quando o Beagle 2 se perdeu durante a aterragem no Planeta Vermelho, voltou agora a repetir-se. Resta saber que implicações isso terá agora na segunda fase da missão Exomars, que está prevista para 2020.

Sabe-se que o Schiaparelli mergulhou à hora prevista na fina atmosfera marciana (às 13.42, hora portuguesa), a uma velocidade vertiginosa de 21 mil quilómetros por hora, e que o paraquedas se abriu no momento certo para travar a queda. Mas a um minuto de tocar no solo, o sinal que estava a ser captado pelo radiotelescópio GMRT, instalado na Índia, perdeu-se. E, depois, mais nada.

O tão aguardado sinal de Marte ainda não chegou, apesar de todas as tentativas. Com efeito, o Schiaparelli estava programado para entrar em contacto com a sonda da NASA Mars Reconaissance Orbiter às 20.00 GMT (menos uma hora em Portugal), mas o aparelho permaneceu silencioso.

Agora é preciso esperar para se perceber o que aconteceu e que consequências isso terá na segunda fase missão, que pretende fazer pousar em Marte, em 2020, um robô móvel, com o objetivo de encontrar sinais de vida no quarto planeta do sistema solar.

Se o Schiaparelli se perdeu ou danificou, como parece cada vez mais provável, essa parte da missão, que pretendia demonstrar a capacidade da Europa de descer na superfície de Marte, não se cumpriu, o que não deixará de ter consequências no que segue.

Num comunicado publicado ao início da noite no seu site, na Internet, a ESA não fala ainda de qualquer perda e prefere olhar com cautela para a situação e para os próximos dias. "Se o Schiaparelli aterrou são e salvo, as suas baterias deverão permitir a sua operação durante três a 10 dias, oferecendo a possibilidade de se restabelecer comunicação". A esperança, portanto, persiste. Amanhã, às 10.00 (menos uma hora em portugal) a ESA conta fazer um ponto da situação, que vai transmitir em direto na Internet.

Estudos em órbita avançam

Quanto ao laboratório que é a sonda TGO da ExoMars, e que tem a seu cargo 99% da parte científica da missão, já circula em torno do Planeta Vermelho, e prepara-se para começar a olhar para a atmosfera marciana, onde há muito ainda para medir e perceber.

A nave vai quantificar os gases ali presentes, como o vapor de água e, sobretudo, o metano, que tem mostrado misteriosas flutuações desde que foi detetado pela primeira vez pela Mars Express, na última década.

O estudo do metano e da sua instabilidade naquela atmosfera é importante, uma vez que este é um gás que na Terra está associado ao metabolismo da vida. A presença intermitente de metano em Marte permite, por isso, levantar a hipótese da existência de micro-organismos no subsolo marciano, que seriam responsáveis por estes surtos imprevisíveis de metano.

Verificar essa hipótese é, aliás, o objetivo da segunda fase da missão ExoMars, que pretende colocar na superfície do planeta, dentro de quatro anos, um robô móvel e uma plataforma científica que terão capacidade para escavar até dois metros de profundidade e analisar no local as amostras recolhidas. O nome da missão, ExoMars, cita expressamente esse propósito: exo, de exobiologia, refere-se a biologia fora da Terra.

Se o módulo de aterragem se tiver perdido, comprometendo um dos objetivos essenciais desta primeira fase missão ExoMars - o de que a aterragem em Marte pode ser feita em segurança com a atual tecnologia europeia -, é bem possível que tudo tenha que ser recalendarizado a partir daqui. Mas vai ser preciso esperar ainda alguns dias, para esgotar as tentativas de comunicação com o Schiaparelli, e talvez semanas, para se analisar os dados disponíveis e perceber o que aconteceu durante aqueles seis minutos da missão.

Informação importante para traçar o sucedido poderá chegar, aliás, nos próximos dias do TGO, que recebeu a telemetria do Schiaparelli durante a sua descida. Nesse pacote de dados pode estar informação essencial para compreender o que sucedeu. Mas na conferência de imprensa de amanhã também poderá haver novidades a esse respeito, uma vez que os construtores do módulo vão passar a noite toda a analisar os dados captados pelo radiotelescópio da Índia. Uma coisa é certa: se o Schiaparelli se perdeu, isso não será uma boa notícia para ESA e para os seus planos para Marte.

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