Europa é a terceira região do mundo mais afetada por desastres naturais
A Europa é a terceira região do mundo mais afetada por catástrofes naturais, como sismos e inundações, logo a seguir às Américas e à Ásia, indicou hoje, em Lisboa, um especialista do departamento das Nações Unidas.
Luca Rossi, do departamento para a Redução do Risco de Desastres, falava durante uma intervenção na Conferência Internacional "Património Cultural: Prevenção, Resposta e Recuperação de Desastres", que decorre entre hoje e sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian.
De acordo com o responsável, "embora se esteja a aumentar a resposta ao impacto humano destas situações de emergência, os danos económicos têm vindo a aumentar", também na área do património cultural.
"Há uma falta de capacidade para recuperar os recursos económicos vindos do turismo e dos monumentos, e também há uma perda enorme em relação à identidade cultural, muito afetada quando as catástrofes acontecem", apontou.
Recordando os abalos sísmicos que têm afetado Itália, este ano, deu como exemplo a igreja de San Benedetto, em Norcia, que já foi totalmente destruída por três vezes, devido aos terramotos.
"Veneza é vista como um exemplo de proteção do património cultural, porque fez um investimento de seis mil milhões de euros, para criar uma barreira que impeça o avanço das águas, e, ao mesmo tempo, conta com uma rede de voluntários residentes, a quem deu formação", disse Luca Rossi.
Na opinião deste especialista, "é melhor investir em prevenção do que em recuperação, porque por vezes pode não restar nada para recuperar a seguir a uma catástrofe".
Por outro lado, Aparna Tandom, do Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM) alertou para as intervenções de ajuda humanitária que estão a aumentar nalguns países, que se tornam mais vulneráveis devido às catástrofes e conflitos cíclicos como é o caso do Nepal e o Haiti.
"Realmente enfrentamos uma ameaça global. Alguns países sofrem desastres naturais cíclicos, com o Nepal e o Haiti, com sismos ou furacões. Outros são alvo de conflitos cíclicos, como a Síria, o Iemen, o Iraque ou a Líbia, ou então ambos se juntam, tornando as situações de emergência ainda mais complexas", apontou a especialista.
Aparna Tandom apontou que os "conflitos bélicos tornam os países mais vulneráveis para enfrentar situações de desastres naturais, e a intervenção de auxílio humanitário fica ainda mais complexa".
O encontro - que conta com o apoio institucional da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) - reúne, na comissão organizadora, Isabel Raposo de Magalhães, do Museu Nacional dos Coches, Rui Xavier, da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Saraiva, da Fundação Oriente, e Xavier Romão e Esmeralda Paupério, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Entre os oradores esperados estão Lina Kutiefan, diretora-geral das Antiguidades e Monumentos da Síria, que irá falar sobre "O Património Cultural da Síria durante a crise", e Corine Wegener, do Instituto Smithsonian, que tutela um conjunto de museus nos Estados Unidos, e que falará sobre o programa desta entidade, aplicado na resposta aos desastres.
Portugal também tem sido palco de catástrofes que atingem o património cultural, nomeadamente os grandes sismos de Lisboa e Angra do Heroísmo - recorda a organização -, os incêndios dos Palácios de Queluz e da Ajuda, da Igreja de S. Domingos ou do Teatro D. Maria II, ou as inundações de 1967, que provocaram graves danos às coleções do Museu Gulbenkian.
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Além de fomentar a partilha de experiências, o encontro visa ainda alargar e reforçar bases de cooperação internacional -- também com os países do mundo lusófono - e também em Portugal.
Serão abordados temas como a análise e gestão de riscos, o efeito da catástrofe a médio e longo prazo nas instituições, casos paradigmáticos que fazem parte da história da conservação, métodos e técnicas para prevenir e recuperar património.