EUA vão limpar terrenos em Espanha onde caíram 4 bombas nucleares
O secretário de Estado John Kerry assinou esta semana em Madrid com o seu homólogo espanhol, José Manuel Garcia-Margallo, um acordo em que os Estados Unidos se comprometem a descontaminar os terrenos onde caíram as quatro bombas após um choque de dois aviões em janeiro de 1966 nos arredores da vila de Palomares, no Sul de Espanha.
O acordo foi assinado quando faltam cerca de três meses para se assinalarem os 60 anos daquele que é considerado um dos mais graves incidentes envolvendo material nuclear no período de toda a Guerra Fria.
O choque ocorreu durante o reabastecimento aéreo de um B-52G, que transportava as bombas, e um avião-tanque KC-135, tendo o primeiro acabado por se despenhar nas imediações de uma escola. O mais extraordinário de todo o acidente é que não houve nenhuma vítima entre a população no solo. Das tripulações americanas, morreram os quatro elementos a bordo do KC-135 e quatro dos sete que seguiam no bombardeiro conseguiram ejetar-se em segurança. Os restantes perderam a vida.
O acidente não assumiu proporções trágicas porque as bombas não estavam preparadas para explodir. No entanto, dois dos paraquedas associados às bombas acabaram por não abrir e os respetivos engenhos partiram-se no momento do impacto no solo, disseminando cinza de plutónio por toda a região. Agora, nos termos do acordo assinado por Kerry e Garcia-Margallo, é toda a terra dos locais onde caíram as bombas - uma área com cerca de 200 hectares - que será levado para um local seguro no deserto do Nevada.
A localização da quarta bomba permaneceu uma incógnita durante meses, só sendo descoberta ao fim de quatro meses no fundo do Mediterrâneo. Os EUA mobilizaram mais de 20 navios, entre os quais submarinos e draga-minas para as encontrarem antes da marinha soviética. As bombas eram parte do arsenal mais sofisticado da época e a sua tecnologia secreta.
Na época, uma primeira camada de solo foi retirada e transportada para um depósito subterrâneo nos EUA, mas desde então as condições de saúde da população de Palomares na época do acidente e seus descendentes têm sido acompanhadas em permanência. Nunca foram encontrados sinais de contaminação.
Estava-se no auge da Guerra Fria e a operação de reabastecimento em voo era procedimento corrente na época, quando os EUA mantinham aviões no ar 24 horas sobre 24 horas, com bombas nucleares a bordo, para responderem a um eventual ataque da União Soviética. Os aviões voavam diferentes rotas ao longo do período de tempo em que permaneciam no ar e foi por mero acaso que o bombardeiro se encontrava em céus espanhóis no momento do acidente. O ponto de partida e chegada seria uma base na Carolina do Norte.
Para demonstrar a inexistência de qualquer risco de saúde, o então embaixador dos EUA em Espanha, Biddle Duke, visitou Palomares e mergulhou nas águas do Mediterrâneo na presença de jornalistas. Ficou célebre a resposta dada pelo diplomata americano a um jornalista que lhe perguntara sobre a presença de radioatividade na água. "Se isto é radioatividade, estou a adorar!", disse com uma gargalhada.