EUA nas ruas contra armas e Remington na falência
Um dia depois dos americanos terem saído às ruas numa marcha a exigir maiores restrições na comercialização de armas, um dos mais antigos fabricantes do ramo nos Estados Unidos, a Remington Outdoor Co. declarou falência, a culminar um período em que as suas receitas conheceram assinalável declínio ao mesmo tempo que não cessa de aumentar a pressão pública para um maior controlo na questão das vendas.
As manifestações do fim de semana passado, que mobilizaram milhões nas ruas principais cidades americanas - só em Washington estima-se que tenham estado mais de 800 mil pessoas -, decorreram num momento em que algumas das principais cadeias comerciais começaram a tomar medidas para restringir a venda de armas, em resposta à campanha desencadeada após o tiroteio de Parkland, na Florida. A 14 de fevereiro, um jovem de 19 anos entrou numa escola secundária naquela localidade com uma espingarda-metralhadora Ar-15 semiautomática e matou 17 pessoas, reacendendo o debate sobre a compra e o direito à posse de armas por civis. Um debate que ganhou ontem nova dimensão com o texto de um ex-juiz do Supremo Tribunal, John Paul Stevens, a pedir a revogação da Segunda Emenda. Adotado em 1791, o texto estabelece o direito à posse de armas como instrumento de proteção, defesa e "segurança de um Estado livre". Nomeado em 1975 pelo presidente Gerald Ford, Stevens argumenta no The New York Times que o texto é "uma relíquia do século XVIII" e deve ser eliminado. Stevens, que se reformou em 2010, foi um dos quatro opositores a uma decisão do Supremo de 2010 (o caso District of Columbia v. Heller) consagrando o direito virtualmente ilimitado à posse de armas por civis. Então, defendeu que a emenda "não estabelece direito ilimitado à posse de armas para autodefesa (...) Protege apenas o direito de posse de armas para certos fins militares e não impede o legislador de restringir o uso não militar ou o direito de propriedade de armas".
Tiroteio de 2012
Os problemas da Remington, fundada em 1816 por Eliphalet Remington, começaram quando Adam Lanza matou 27 pessoas na escola primária de Sandy Hook, no Connecticut, a 14 de dezembro de 2012, assistindo-se a um primeiro declínio de vendas. A empresa detentora da Remington tentou a sua venda, sem êxito, e as famílias das vítimas processaram a Remington, num processo que ainda decorre.
As vendas caíram ainda mais após a chegada de Donald Trump à Casa Branca, pondo fim a receios de leis mais restritivas para a sua aquisição que surgiram durante os mandatos de Barack Obama.
Como os casos de Sandy Hook e de Parkland, ou Columbine em 1999, revelam boa parte dos tiroteios são protagonizados por menores de 21 anos. E algumas cadeias de lojas começaram esta semana a aplicar restrições nas vendas a pessoas daquela idade e introduziram também a obrigatoriedade de apresentação de atestados das autoridades sobre o comportamento dos compradores. Algumas lojas deixaram de vender carregadores de alta capacidade, isto é, que podem conter um maior número de munições.