Francisco Ferreira: "EUA estão isolados"
Qual é o impacto desta saída?
É uma atitude de enorme irresponsabilidade, porque após o esforço para se conseguir um acordo global e de os EUA, a par da China, estarem a liderar um acordo global para, pelo menos, minimizar as alterações climáticas, Donald Trump usa agora argumentos inválidos para justificar saída. A economia americana e mundial estão já a direcionar os investimentos para as energias renováveis e a eficiência energética. Esses são os objetivos dos grandes Estados e empresas americanas. E no futuro a China e a UE têm uma possibilidade de liderança que foi perdida pelos EUA. Há também uma consequência direta que é a provável redução do esforço, que era importante por parte dos EUA, para impedir o aumento da temperatura superior a 1,5 graus em relação à era pré-industrial. A retirada do financiamento do fundo climático verde deixará mais desprotegidos os países em desenvolvimento com menor capacidade de adaptação.
É possível o acordo sem EUA?
Claro que sim. Isso exigirá mais esforço. Os EUA permanecerão formalmente até setembro de 2020, a não ser que haja alguma emenda, mas os seus compromissos estão neste momento de fora. O Acordo de Paris prevê um esforço até 2020, mas a contribuição dos EUA é para a redução de 26% a 28% das emissões de gases com efeito estufa entre 2020 e 2025. Isso implica um trabalho que já estava a ser feito e que não deixará de ser feito. Mas perderá fôlego. Esta será uma afirmação mais política perante algum eleitorado e negócios que apoiam Trump do que uma consequência direta no rumo que tem vindo a ser traçado.
Os EUA podem negociar?
Não há abertura. Politicamente, e participei nas negociações na última conferência da ONU em Marraquexe, que coincidiu com a eleição de Trump, e ficou muito claro que todos os outros países estão unidos e que portanto os EUA estão isolados e sem capacidade negocial nesta matéria e com implicações noutras unilaterais.