EUA acusam Indjai de tráfico de drogas e armas

O chefe de Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, foi ontem acusado pelo procurador de Manhattan de participação numa operação internacional de tráfico de droga e armas.
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A queixa, entregue na Justiça norte-americana, afirma que Indjai participou numa conspiração para fornecer armas à guerrilha colombiana FARC, considerada terrorista pelos EUA, para armazenar cocaína da mesma organização, para vender armas a ser usadas contra forças norte-americanas, incluindo mísseis terra-ar, e também para colocar cocaína no mercado dos EUA.

Para Preet Bharara, procurador de Manhattan, que apresentou a queixa juntamente com a agência anti-narcotráfico (DEA), Indjai terá usado a sua posição no topo da hierarquia militar guineense para "ser um intermediário", fazendo da Guiné-Bissau "um ponto de passagem para pessoas que se acredita serem terroristas e narcotraficantes".

"Tal como tantos altos responsáveis alegadamente corruptos, [Indjai] vendeu-se a si e ao seu país por um preço", afirmou Bharara em comunicado da procuradoria.

A operação da DEA levou à detenção em águas internacionais, a 4 de abril, de dois narcotraficantes guineenses, Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse, considerados "co-conspiradores" de Indjai, e do almirante guineense Bubo na Tchuto, que foram transportados para Nova Iorque, onde vão ser julgados.

O processo surge quase um ano depois de Indjai ser incluído na lista de indivíduos alvo de sanções do Conselho de Segurança da ONU, por protagonizar o golpe de Estado de abril de 2012, que interrompeu eleições presidenciais e levou ao poder um governo de "transição".

Michele M. Leonhart, administradora da DEA, afirmou que as acusações "mostram como o vasto regime de droga e terror" de Indjai "ameaçaram a segurança nacional, não do seu país, mas de países em todo o mundo".

No topo das Forças Armadas, o general "tem acesso por dentro a instrumentos de poder nacional que alegadamente fazem dele um ator significativo no perigoso comércio de drogas da África Ocidental", considerou.

"Juntar-se a indivíduos que acreditava que eram parte de uma organização terrorista como as FARC servia para expandir as suas atividades", adiantou ainda.

Líder das Forças Armadas guineenses desde junho de 2010, Indjai manteve contactos com agentes infiltrados da DEA, que se apresentavam como membros das FARC, desde o verão de 2012, e as comunicações foram registadas em telefone, e-mail e "uma série de reuniões gravadas em áudio e vídeo" ao longo de vários meses.

Segundo a acusação, sm junho de 2012, Indjai e os co-conspiradores guineenses e dois colombianos, acederam em receber e armazenar carregamentos de várias toneladas de cocaína das FARC na Guiné-Bissau, que seria reenviada para os Estados Unidos, onde a venda serviria para financiar a guerrilha.

Concordaram também que parte da cocaína seria usada para pagar a dirigentes guineenses, incluindo Indjai, por assegurarem o "salvo conduto" dos narcóticos, e em comprar armas para as FARC, incluindo mísseis terra-ar, importando-os sob pretexto de uso pelas Forças Armadas guineenses.

Terá sido o arguido Mané a arranjar a reunião com Indjai, que a 2 de Julho concordou em "facilitar o envio de cocaína para os Estados Unidos através da Guiné-Bissau e agenciar armas para as FARC, sabendo que seriam usadas para combater forças norte-americanas na Colômbia".

A acusação de narcoterrorismo tem uma pena de 20 anos a prisão perpétua, a de conspiração para distribuição de drogas de 10 anos a perpétua, a de apoio a organização terrorista 15 anos a perpétua e a de aquisição e transferência de mísseis terra ar de 25 anos a perpétua.

O caso foi entregue aos procuradores-adjuntos Aimee Hector e Glen Kopp.

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