Eu panico, tu panicas...

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No mundo da finança, os que panicam são normalmente aqueles que ficam a perder. Vítimas do pânico tomam decisões irracionais e favorecem a acção dos especuladores, porque é o medo de uns que faz descer o preço e permite a outros comprar barato para depois vender caro. É nesta bolsa de valores que anda o BES e é este o pânico que Marcelo Rebelo de Sousa diz ser preciso evitar junto dos clientes do banco, não vão eles migrar com o seu dinheiro para um banco ao lado e criar um problema (a falta de liquidez) que, pelo menos por agora, não existe.

O verbo panicar não foi inventado por mim, nem por nenhum dos milhões de brasileiros que a toda a hora estão a verbalizar novos verbos. Foi Marcelo Rebelo de Sousa que, na TVI, defendeu que "não há razões para as pessoas panicarem", porque o problema do BES está resolvido com a nova equipa liderada por Vítor Bento. Na verdade, a chegada de Vítor Bento é uma boa notícia para ajudar a resolver um problema cada vez mais bicudo mas não chega, porque a liderança importa mas há na herança problemas sérios que não se resolvem com a chegada de um super-homem.

O que todos os conhecedores deste processo também sabem é que há dinheiro para a recapitalização e a liquidez do banco. Não chegou o momento, ele vai chegar e será um sério revés político para o Governo se o Estado tiver de se atravessar.

Em matérias desta complexidade convém, no entanto, não tropeçar na pressa de querer resolver em poucos dias um problema que demorou anos a gerar. Antecipar a entrada da nova administração, como fez Carlos Costa, não é tão simples como carregar num botão. O banco continua a ter accionistas que têm de dar o seu acordo à estratégia desenhada e a fiscalização intrusiva não dá ao governador o direito de pôr e dispor a seu belo prazer. Acresce que também foi preciso o acordo de Vítor Bento, José Honório e Moreira Rato, não esquecendo que a intenção de Vítor Bento era entrar apenas quando as contas do semestre estivessem aprovadas, para não ter de as assinar. Ora, quem agora começa a descobrir fragilidades na acção do governador convém que pense na vida como ela é, antes de ditar sentenças sobre a maior rapidez com que podiam ter-se tomado boas decisões.

Se queremos que a coisa se resolva da melhor maneira, convém não começar involuntariamente a fazer o jogo daqueles que apostam tudo no "quanto pior, melhor" e a quem interessa virar os holofotes da censura para cima da solução. Entramos no jogo da comunicação e há quem queira atar as mãos dos que estão a tentar resolver o problema e isso é pior do que panicar, porque quem panica age irracionalmente e quem anda a mexer nos holofotes sabe o que está a fazer.

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