Eu, a minha Ansiedade e a Covid-19. 5.ª Vaga
Um estudo realizado em 204 países e territórios, publicado pela The Lancet, revelou que em 2020 existiram mais 76 milhões de casos de perturbação de ansiedade, que se relacionam, com a (com)vivência desta e nesta Pandemia.
Jovens adultos (20-24 anos) e mulheres, são os grupos em que se observou um maior sofrimento psicológico, com agravamento (ou surgimento) de perturbações de saúde mental, como a depressão e a ansiedade.
Se antes da Pandemia já era evidente a falta de recursos para o tratamento e acompanhamento nestas situações - mesmo com alguns reforços que foram feitos - sabemos que são bastante insuficientes e não estão a responder a esta crise de saúde mental que se vive um pouco por todo o mundo.
Se muitos cravaram a sua esperança "num viver com liberdade" ou um "viver mais normal" após a tomada da vacina, e nos últimos meses conseguiram alguma estabilidade emocional porque "estavam protegidos", nas últimas semanas começaram a sentir novamente uma "perda de controlo" nas suas vidas.
Agora, final de 2021 e o confronto com o facto do número de casos positivos estar a aumentar, o aumento dos internamentos (também em UCI), o aumento do número de mortos em Portugal, o aumento do número de crianças infetadas, já o vislumbre de alguns eventos que podem ser cancelados, o regresso ao teletrabalho, outros países que "já" estão em confinamento (...) está a afetar muitas pessoas. Sentem que a esperança foi em vão.
A memória muito recente do que significa estar em confinamento e viver com restrições - o isolamento e os sentimentos de solidão, as dificuldades económicas e o desemprego, aquela sensação de "manter-se à tona quando tudo sai do sítio", aquela sensação do que "por mais que se faça, fica sempre um mundo por fazer", aulas à distância e o "meu" trabalho... E a casa? Ora são os brinquedos que passeiam pelos sítios mais incríveis, as refeições frequentes e, são poucas as vezes, que conseguimos "manter a ordem" nas coisas, na nossa vida, nos nossos... Ou pelo menos, é assim que se sente e vê.
E toda esta complexidade (para não dizer mais) pode causar-nos tanta ansiedade... Um turbilhão de emoções. Sofrimento psicológico.
Até porque de alguma forma, tínhamos cravado a esperança na abertura, na vacina, num "o um pior já passou". Não era isso?
E agora? Este vislumbre, as notícias, os novos casos, as urgências, mais de 18 mil pessoas morreram... começam a não sair da cabeça. As insónias voltaram. Soube de mais um caso positivo. Vamos mesmo ter que voltar para casa? O meu filho afinal coloca os avós em perigo? Quando é que afinal isto passa? Nova vacina? Medicamento? Ahhhhh!
A sensação/O pensamento pode ser "NÃO SEI SE AGUENTO".
Acredite na sua capacidade em lidar com as situações e dificuldades da vida. Confie em si.
Mantenha-se informado, mas procure fontes credíveis e "consuma apenas o que é necessário".
Concentre-se em realizar (também) atividades que goste.
Mantenha contacto com os seus.
Partilhe os seus medos, angústias e preocupações.
Não descure a atividade física e o relaxamento.
Mantenha-se positivo.
Um dia voltaremos (mesmo) a abraçar os nossos (sem medo).
Um dia voltaremos ao escritório...
Um dia.
Mas entretanto, olhe para os seus mas também para si.
E não (se) deixe "demasiado para depois".
Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde