Ética e Política – Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és

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Alguns dos casos sobre membros e ex-membros do Governo português são de pasmar. Primeiro pela defesa acérrima que dos envolvidos começam sempre por fazer o Primeiro-Ministro e/ou outros responsáveis político-partidários e governativos, por outro pela evidente falta de ética das ações trazidas a lume pela comunicação. O que leva, então, estes altos responsáveis da nação a sobrepor uma qualquer lealdade pessoal ou amizade política ao respeito da ética que dizem defender? Parece ser a aderência a uma outra forma de ética.

O facto desses responsáveis serem amigos e correligionários de tantos ministros e secretários de Estado apanhados e demitidos por ações de pouca ou nenhuma ética já diz muito sobre o seu caráter. O facto de os terem nomeado fala ainda mais alto. O ditado popular reza "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és".

Obviamente que todos podemos ser enganados, confiar em quem não devemos, mas quando os casos se acumulam e multiplicam a situação muda de figura. Se escolhermos para nossos amigos e camaradas muitas pessoas sem ética, e durante anos de convivência não identificámos o seu caracter, o que diz tal fato sobre nós mesmos? Não será tempo de por as mãos na consciência e tentar melhorar a nossa postura na vida?

A ética é a ciência normativa da retidão dos atos humanos. A ética traduz-se depois em códigos deontológicos que compilam o que, em cada atividade, é justo e correto separando-o do que é incorreto e maléfico. Naturalmente a ética como todas as ciências sociais não é monolítica, isto é existem várias versões e reflexões.

Fora de qualquer escola ética está, contudo, o postulado muito em voga em Portugal do "rouba mas faz obra", erigido em principio inatacável em vários municípios da Grande Lisboa.

Também a famosa ética "socialista, republicana e laica" se encontra ausente dos debates académicos e filosóficos sobre ética. Tal ética parece ser o padrão adotado pelo nosso Governo. Quais os traços essenciais dessa estranha ética "socialista, republicana e laica"?

O primeiro é a confusão entre legalidade e ética, daí derivando o princípio de que se não foi condenado então é inocente, e se não foi considerado fora da lei então está dentro da ética. Este pensamento confuso é errado não entendendo que muitos comportamentos legais podem ser, simultaneamente, não éticos.

O segundo é que não se deve combater a corrupção com leis, tribunais, condenações e penas mas com o ensino nas escolas, nomeadamente nos jardins-de-infância e nas escolas primárias, como propõe a Estratégia Nacional Anticorrupção adotada pelo Governo. Como o bombeiro que vendo uma casa a arder em vez de apagar o fogo se dirige para a escola mais perto a ensinar às crianças que não devem brincar com fósforos.

O terceiro é que a ética "socialista, republicana e laica" não recebe lições de ninguém. Assim sendo o governo não implementa as recomendações das instituições europeias e internacionais de luta contra a corrupção, nem as boas práticas nesse domínio.

O quarto é a estrita separação entre marido e mulher ou entre quaisquer outros familiares, pai e filhos por exemplo. Imaginemos que o marido vive do rendimento da mulher que se dedica ao lenocínio. Tudo bem, ela pode ser de recriminar mas ele é impoluto, apesar do

povo ter um epiteto nada simpático para o marido. Ou imaginemos que o marido é um ladrão e a mulher vive, no todo ou em parte, desse rendimento. Diz a nossa estranha ética que está tudo bem com a mulher e que o seu comportamento é imaculado.

Enquanto em vez da ética universal, das regras de boas práticas europeias, da transparência dos atos, de condições jurídicas, processuais e materiais efetivas para o combate à corrupção, seguirmos regras "éticas" que mais parecem tiradas de um manual de nepotismo mafioso, o nosso país terá muita dificuldade em crescer e em fixar e/ou atrair as pessoas de que precisa para se desenvolver no mundo atual.

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