Estudantes universitários dormem na rua contra a falta de lugares em residências
Há estudantes a dormir nos carros, outros a dividir casa com um quarto ou dois com mais três, quatro ou cinco colegas para conseguirem pagar os 600, 800 ou até os 1200 euros que pedem de renda. A denúncia parte do presidente da Federação Académica do Porto (FAP), João Pedro Videira, que hoje passará a noite na rua, juntamente com mais cem a 150 colegas, na Praça Gomes Teixeira, a Praça dos Leões, a partir das 20.00, para protestar contra esta situação.
"A área do Porto tem 23 mil estudantes deslocados e só mil têm lugar nas residências do Estado. Na semana passada, tivemos conhecimento de situações de estudantes que estavam a dormir nos carros por não terem ainda conseguido encontrar espaços que possam pagar. Isto é uma realidade e a continuar assim alguns certamente deixarão o ensino superior", afirmou ao DN.
O DN consultou anúncios em sites específicos para estudantes na área do Porto que anunciam quartos e casas para alugar em que se pede 580 euros, 600 e até 850 euros por uma casa com um quarto, se tiver dois quartos o preço pode ir até aos mil ou 1200 euros, mas todos referem que os espaços dão para mais de duas pessoas, alguns podem ir até às seis. "O preço médio de um quarto está entre os 300 e mais euros. Quando se trata de casas, às vezes ainda é pior", conta o presidente da FAP.
João Pedro Videira conta que desde dezembro do ano passado que a federação pressiona o ministro da Ciência e do Ensino Superior sobre a urgência de mais camas universitárias para a área do Porto, mas até setembro não houve qualquer resposta. "Só no início do mês é que o governo anunciou que estaria a finalizar protocolos com 30 imóveis para a abertura de mais 1500 vagas em residências, mas o que é que isso vai adiantar? Só no Porto seriam necessárias, no mínimo, entre cinco e seis mil camas para responder às necessidades dos estudantes deslocados e carenciados", sublinha.
O cenário não é exclusivo do Porto. É idêntico em outros locais do país, como em Lisboa, e os estudantes argumentam que não são "soluções paliativas" que vão resolver a situação, que "começa a arrastar-se e a agravar-se. Parece que estamos numa peça de teatro em que o papel principal é mal desempenhado pelo ministro Manuel Heitor", afirmou o líder estudantil. Por isso, lança o desafio a todos os estudantes do Porto que hoje passem pela Praça dos Leões para darem mais força a este protesto.
De acordo com os dados da FAP, existem no país mais de cem mil estudantes deslocados, tendo em conta que uma boa parte destes necessita de cama, "o que adianta só mais 1500? Há que pensar noutra estratégia", afirma João Pedro. Tanto mais que muitos destes estudantes são confrontados com um outro problema: o atraso na atribuição das bolsas. "Neste ano tivemos a indicação de que só hoje a plataforma para a candidatura a bolseiro começou a funcionar quando as candidaturas podiam ter começado a ser entregues há três meses. E, mesmo assim, começou com falhas. Tivemos a informação de que não estava a permitir o reconhecimento da situação tributária do aluno, ora sem isto nada feito. Até quando é que estes alunos vão aguentar?", questiona, para reforçar: "Muitos destes alunos apenas têm direito a um subsídio de cerca de 120 euros para pagar um quarto, com os preços que estão a pedir como é possível sustentarem-se? A FAP tem defendido que este apoio deve aumentar, mas até agora isso não está a ser equacionado."
O líder estudantil disse ao DN que se o protesto de hoje na rua não der resultados outras medidas serão avaliadas e adotadas. "Teremos de voltar às manifestações, provavelmente, para se saber a realidade que estamos a viver, mas não desistiremos de lutar pelos estudantes", argumentou.
O DN contactou o Ministério da Ciência e do Ensino Superior para saber o que se está a passar com a falta de lugar em residências, mas não obteve resposta.