Estuda!

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É um tema estafado, claro.

Mas é um tema de investimento, também. E coloca-se de uma forma pungente quando a economia desacelera. Ou seja, um travão na economia, um pouco de inflação, e começa tudo a desinvestir. Erro crasso. Desinvestir em períodos maus é não estar nunca preparado para períodos bons. Porque eles chegam sempre. E, quando chegarem, os que fizeram por isso em tempos de "trevas" terão o seu prémio.

Numa altura em que precisamos mais que nunca de crescer, de nos tornar produtivos, não podemos jamais tirar o pé do investimento formativo. Ou seremos irremediavelmente ultrapassados. Aí sim, nada haverá a fazer.

Qualquer economia dita das do Leste europeu tem mais conhecimento que nós. Portugal andava nos 55,4% de pessoas com ensino secundário em 2020. A coisa não terá melhorado com a pandemia. Mas, em contrapartida, e só para dar alguns exemplos, a República Checa, a Lituânia, a Eslováquia e a Polónia andavam todas acima dos 90% de população com ensino secundário completo. Abaixo disto, e acima dos 80%, temos casos como a Sérvia, a Bulgária, a Hungria ou a Croácia. Até a Roménia está neste lote e, feliz ou infelizmente, está pertíssimo de nos ultrapassar em PIB per capita.

Andamos há anos a discutir se é mais Estado ou menos Estado. Se é mais liberalismo ou menos liberalismo. Se é mais ajuda às empresas ou menos ajuda às empresas. Se é isto ou aquilo. Podemos discutir ad nauseam e cada qual ter as suas próprias opiniões e convicções. Agora, não podemos abandonar, o que seja que defendamos, a formação.

Fala-se sempre pouco, ou nada, do nível de habilitações e da correlação que tem o conhecimento com o desenvolvimento da economia e a criação de riqueza. O nosso esforço, e tenho repetido isto à exaustão, deve centrar-se em formar pessoas. Formar pessoas em termos de secundário, em termos profissionais, em termos superiores e ao longo da vida. Enquanto não colocarmos na nossa cabeça que a formação é fundamental e talvez o trigger mais importante para desbloquear vários outros jamais daremos a volta ao perfil económico do país. Não importa, para já e neste contexto, o modelo nem tão pouco se é mais à direita ou mais à esquerda. Temos crescimento anémico há anos demais. E se não olharmos aos fundamentais não daremos nunca a volta.

E porque não damos a volta? Porque não temos formação. Porque o poder que se ganha em formação é imenso e se a não tivermos vamos perdê-lo. Porque as pessoas forjam-se em conhecimento e esse conhecimento é um intangível que não foge. Porque a curiosidade intelectual, uma vez conhecida, vai atrás de mais curiosidade e nunca fica saciada. Porque as pessoas crescem como pessoas e como seres humanos. Porque passam a conhecer melhor as suas limitações e tornam-se mais preparadas. Enfim, porque são mais livres e mais móveis. Não ter formação aprisiona-nos e torna-nos obsoletos. Correlação máxima com a economia que temos.

Não me preocupa grande coisa, também, que a geração mais bem formada de sempre vá embora. É legítimo. É natural. Vão à procura de novas e melhores condições. E como acredito que há sempre uma tendência para um equilíbrio (chamem-lhe mão invisível ou o que quiserem) muitos voltarão e outros nem chegarão a ir. O que não podemos, nunca, é parar a formação. Parar a educação. Prender as pessoas. Não investir em termos cabeças e melhor pensamento. Mais estruturado. Mais crítico. Se assim não for não conseguiremos melhores produtividades e melhor orientação para resultados.

Nada há como estudar. Não importa o quê, importa estudar, tornar a mente fértil, criativa, observadora, arejada, empreendedora. Abandonar a nossa própria prisão, construir ideias e voar, voar muito e ter a coragem para conseguir transformar essas ideias em objetivos a atingir.

O conhecimento que vamos acumulando, por pouco que seja, faz toda a diferença no comboio das nossas oportunidades. Ou ele passa de portas fechadas ou, quanto mais sabemos, maior é o número de portas que, ao parar na nossa estação, se abrem para podermos entrar. Encontra a tua porta, pois. Mas, antes disso, investe em ti para que o comboio passe de portas abertas. E para isso, estuda!

Presidente do Iscte Executive Education

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