Estimulação cerebral pode resolver obesidade
Mexer diretamente no cérebro, usando estimulação profunda com elétrodos, pode ser a nova forma mais eficaz de combater a depressão e a obesidade. O caso ainda é circunscrito a uma só paciente (e foi publicado no jornal Neurocase), mas tem revelado resultados inesperados. No entanto, os médicos que levaram a cabo esta intervenção alertam que a estimulação cerebral profunda não é indicada para todos os casos e deve apenas ser usada como tratamento de fim de linha.
Esta técnica tem sido usada com alguma regularidade em doentes com Parkinson e foram os bons resultados alcançados nesta área que levaram à sua exploração para outras doenças. Em Portugal há cerca de 900 doentes, que desde 2002, têm dois pequenos elétrodos no cérebro que vão libertando carga elétrica na parte afetada pela doença, permitindo que estes voltem a ter controlo dos seus movimentos.
Agora a colocação de elétrodos foi experimentada para tratar a depressão de uma doente, Anna, que viveu quase toda a sua vida adulta com esta doença. Era ainda obesa mórbida - pesava 183 quilos - e nem o by-pass gástrico mudou a situação. O neurologista Thomas Munte, da Universidade de Lubeck, na Alemanha, acabou por recorrer à técnica de estimulação do cérebro, para tentar inverter a suituação de Anna.
Os resultados acabaram por ser melhores do que o esperado: a mulher perdeu cerca de 2,8 kg por semana, mais 50% do que perdia com os tratamentos anteriores. Além disso, ficou curada da depressão, descreve a BBC. O sucesso neste caso, abriu a porta à discussão de se este método é aceitável para tratar algumas adições, uma vez que neste caso desligou o cérebro da adição à comida.
Interferir diretamente no cérebro tem sido um tema sensível na investigação médica ao longo do século XX. A estimulação elétrica começou a ser feita na década de 1930 pelo neurocirurgião Wilder Penfield, que procurava curar a epilepsia. Depois veio o Nobel da Medicina português, Egas Moniz, e a lobotomia que procurava curar depressões, cortando partes do cérebro.
Menos radical, a estimulação cerebral profunda não é menos controversa. Todos os passos que são dados são cautelosamente estudados. Para tratar a obesidade, os especialistas acreditam que este método pode ter sucesso por mexer com a área do cérebro - nucleus accumbens - relacionada com a adição, seja de comida, droga ou álcool. Normalmente, a área do nosso cérebro que bloqueia os impulsos toma o controlo. Menos para quem sofre de adição.
Se esta área do cérebro for "perturbada" ou mesmo inibida pela estimaulação elétrica, a "atração motivacional deixa de exsitir e já não somos atraídos para o objeto da nossa adição", explica Thomas Munte. Esta parte de criar a inibiação ainda é uma teoria, apenas testada em animais.
Mas, "às vezes em medicina começamos a fazer [testes clínicos] antes de saber exatemente como é que as coisas funcionam", acrescentou o neurologista alemão. Foi o que aconteceu no caso dos doentes com Parkinson e, os cientistas, esperam que possa acontecer agora para a depressão e para a obesidade.
Ainda assim, este é um método de último recurso. É invasivo e caro e por isso não indicado para todos os doentes. Mas sabendo que o que acontece é reprogramar o cérebro para deixar de levar as pessoas a procurar determinado padrão alimentar, há testes para tentar fazer esse trabalho sem cirurgia.
É isso mesmo que está a fazer a nerocientista Sonja Yokum, que estuda obesidade no Instituto de Investigação do Oregon, nos EUA. Através do desenvolvimento de um treino em que indivíduos obesos devem reprogramar a resposta do seu cérebro perante a comida. Perante imagens de comida saudável, o paciente deve clicar "gosto", fazendo o oposto em relação a comida pouco saudável. "Estamos a tentar treinar o cérebro desta forma", refere.
Esta pode ser uma das respostas, mais baratas e menos invasivas, para ajudar os 650 milhões de adultos e 340 milhões de crianças e jovens que sofrem de obesidade em todo o mundo.