Numa rua de Lisboa numa noite com vento e frio encontramos Louis Garrel. Pede-nos um cigarro enquanto Laetitia Casta, a namorada, fica à espera dele no interior do restaurante. Está feliz com a sua primeira longa, Dois Amigos, estreado no Festival de Cannes em 2015, na Semana da Crítica. Enquanto conversamos há pessoas que o reconhecem, sobretudo raparigas. Louis é estrela de filmes de culto e considerado um símbolo sexual no mundo inteiro - chega mesmo a ser modelo para marcas de perfume..[youtube:bsegPHeVZdQ].Ao contrário do que muitos pensariam, a sua estreia nas longas-metragens quase propositadamente não evoca o cinema do seu pai, Philipe Garrel. Até parece um cinema em oposição..Fiz outra coisa, sim... Dois Amigos é muito diferente também da minha curta, Petit Tailleur. Não quis forçosamente dar prazer ao cinéfilo. Quis antes um filme nervoso, rápido, enfim, uma história de dois rapazes e uma rapariga, o mais clássica possível..Mas a questão passa por saber o que é para si clássico?.Clássico no sentido de ter uma certa variedade. Tem jogos psicológicos e um lado de conto - como se fosse um filme para crianças... O que é bizarro é que depois funciona um pouco como uma convulsão. Há algo no interior convulsivo como se fosse uma pista para a última hipótese da imaturidade. Estas personagens têm relações muito imaturas. Fui para personagens que apenas falam de amor. De alguma maneira, é um filme para pessoas com vinte anos. Eles são como putos de vinte anos mas têm trinta! Por outro lado há nisso tudo um lado um pouco monstruoso. Estes homens são uns pequenos monstros, talvez por isso as mulheres gostem mais deste filme..Aos trinta falamos menos de romance?.Na verdade até não... Acho é que as personagens com trinta anos acabam por falar muito do seu destino. Estes meus trintões são muito adolescentes. Por outro lado, o espectador identifica-se mais com a rapariga, que tem problemas reais e materiais, enquanto os rapazes são mais como que uns palhaços, uma espécie de Bucha & Estica, que vivem sempre juntos, têm romances só para contarem um ao outro e passam o tempo todo ao telefone. Depois, surgiu-me a ideia de contar a amizade masculina de forma muito sensual. Há entre eles uma ligação sensual, para além da mera camaradagem. Eles não são só os amigões. Quis contar de forma sensível a amizade masculina. Nas últimas cenas quis mesmo explorar algum tipo de conjugalidade. Em vez de ser um caso entre uma mulher e um homem temos dois amigos. Se quiser, Discórdia (1941), de Raoul Walch, tem alguma aproximação com este meu filme. Aquelas personagens masculinas são também como crianças....De alguma forma finta o espectador com as expectativas do cliché francês da ménage à trois....Sim, não fui por aí. Curiosamente não sei porquê as pessoas identificam o ménage à trois connosco, os franceses. Pensam que os franceses são sexualmente mais livres..Como é que o seu pai reagiu ao filme?.Disse que gostou muito do Vincent Macaigne e da atriz, a Golshifteh Farahani. Mas para mim este filme foi o fim de um ciclo, foi terminar a minha adolescência..O momento em que ouvimos King Krule tem verdadeiramente uma qualidade rock n"roll. Há uma energia incrível..Eu gosto muito de King Krule e quis misturar música muito contemporânea com a partitura do Philipe Sarde, a quem pedi música muito clássica a remeter para os anos 1980 do cinema francês. Ele era um especialista a compor música para filmes muito líricos e sentimentais. De certa maneira, é também um filme que homenageia o cinema de André Téchiné, em especial Encontro (1985)..[artigo:5269345]