Este país não é para licenciados
O governo entrou em funções há cerca de ano e meio e ao longo deste período assistimos a uma brutal destruição de emprego qualificado. Em 18 meses Portugal perdeu 128 mil trabalhadores com o ensino superior completo, mais de 7000 por mês, em média. Esta destruição de emprego qualificado é o oposto do que prometia o governo e decorre de prioridades erradas.
António Costa prometeu qualificar a economia e o país, assinou um acordo de rendimentos com os patrões para assegurar esse objetivo a troco de benesses fiscais variadas e de uma maior fatia do PRR para os grupos económicos. Ano e meio depois, o país está mais desigual, menos atrativo para licenciados e menos qualificado.
Já sei que há quem diga que uma parte desta redução do número de trabalhadores com o ensino superior completo vem de aposentações ou da redução de emprego no Estado, seja na Escola Pública ou no Serviço Nacional de Saúde. Mas essa é a outra face desta moeda em que até a coroa tem má cara: há menos professores e mais alunos sem aulas (setembro infelizmente irá ser a continuidade deste desastre), e há menos profissionais de saúde e mais listas de espera ou urgências encerradas. Fazer guerra aos profissionais em vez de cuidar daqueles que nos fazem falta é promover a desqualificação do país. Quem semeia ataques aos profissionais do Estado, colhe despedimentos, seja na forma de aposentação, de fuga para o privado ou de mala às costas para a emigração. Agradecem outros países que acolhem profissionais bem formados e muito capazes.
No entanto, o rol de escolhas erradas está longe de acabar. A desvalorização salarial promovida pelo governo ajuda a esta desgraça. Os salários do país são baixos e deixar que a inflação lhes tirasse valor foi apenas mais uma das perversidades promovidas. António Costa foi dos primeiros, na Europa, a dizer que aumentar salários faria disparar a espiral inflacionista. Já se ouviam instituições internacionais a apontar o dedo aos abusos dos lucros milionários dos bancos, da indústria do fóssil e do setor energético, da grande distribuição, mas o governo fez ouvidos moucos. E deu o tom para os privados com a proposta salarial que fez na Administração Pública, carimbando a desvalorização salarial e o aumento das desigualdades.
E se o salário já se mostrava curto para o aumento de preço de bens essenciais, o disparar dos custos com a habitação é a machadada final. Quem tem créditos à habitação já viu duplicar a mensalidade que paga à banca, quem não é proprietário conhece como as rendas dispararam. Vitória de especulação sobre o direito à habitação porque as regras do jogo estão viciadas: não há política pública para defender quem precisa de casa. O governo promete "Mais Habitação", mas apenas entrega mais especulação.
O custo de vida aumenta e a carteira não aguenta. Seja no supermercado ou na casa, os salários têm dificuldade em esticar até ao fim do mês. É por isso que quem pode, emigra. Assim se explica como a falta de políticas públicas para as pessoas está a fazer mal ao país e a promover uma economia menos qualificada e mais pobre porque menos preparada para o futuro.
Dirão que a taxa de desemprego diminuiu, que essa é uma notícia que estou a desvalorizar. Bem pelo contrário, ainda bem que o desemprego diminuiu. Mas é à custa de uma maior dependência do Turismo e da Construção Civil, setores que estão a puxar pela criação de emprego mas que não o fazem por via da qualificação de economia. Este é o caminho que hipoteca o futuro.
Presidente da bancada parlamentar do BE