"Este disco é o começo de uma nova era para os Franz Ferdinand"
Contemporâneos de grupos como White Stripes, The Strokes ou Interpol, que nos primeiros anos do novo milénio contribuíram para dar uma nova vida ao rock, os Franz Ferdinand avançam agora por outros territórios. O álbum marca uma viragem no som do coletivo escocês, com uma gradual substituição das guitarras, que sempre foram a sua marca de água, por batidas mais pop e eletrónicas. O resultado é um disco que revela uma banda capaz de se reinventar e de aumentar o seu prazo de vitalidade, sem perder um pingo de identidade. Como revela o baixista Bob Hardy nesta entrevista ao DN, "o grupo está com uma nova energia, e isso nota-se nas canções".
Cinco anos depois de Right Thoughts, Right Words, Right Action, este novo disco marca uma viragem no som da banda, que agora se apresenta muito mais eletrónico. Acabou-se em definitivo o tempo das guitarras nos Franz Ferdinand?
Não sei, porque as guitarras continuam a estar muito presentes em todas as nossas canções. O que sei é que este disco representa o começo de uma nova era para nós enquanto banda. E nós sempre colocámos muita eletrónica na nossa música, mas talvez nunca de uma forma tão assumida, nisso estou de acordo.
O álbum vagueia por diversos ambientes musicais. Como é o vosso método de trabalho enquanto grupo na altura de compor?
Cada um de nós tem a suas próprias opiniões e todos contribuímos quando estamos a criar uma música nova. Falamos muito uns com os outros e, portanto, cada canção é resultado não só do trabalho de um único músico, mas de seis, o que por vezes se pode tornar muito confuso [risos], mas ao mesmo tempo é muito mais enriquecedor em termos artísticos.
O álbum é também muito variado em termos de letras, que tanto vão da nostalgia de The Academy Award à ironia de Lois Lane ou à crítica social e política em Huck and Jim, por exemplo. Que histórias são estas que aqui são contadas?
Nós gostamos muito mais de escrever sobre personagens do que propriamente sobre pessoas reais. As nossas canções não são autobiográficas, mas antes pequenas ficções que cada um pode interpretar como bem entender. Gostamos muito da ideia de que cada canção pode ter o seu próprio mundo e a sua própria história, independente das restantes, quase como se um disco fosse um conjunto de curtas-metragens ou pequenas novelas.
Este é também o primeiro disco sem a presença do guitarrista Nick McCarthy. Como foi, pela primeira vez, fazer um disco sem um dos membros fundadores, que mais contribuiu para a sonoridade do grupo?
A saída do Nick foi uma escolha pessoal dele, que nos deixou muito tristes, mas que todos nós respeitámos. De certa forma, a partida dele até nos tornou mais unidos, até como amigos, o que acabou por funcionar como um estímulo, quando começámos a escrever as canções para este disco, porque percebemos muito claramente quem éramos e o que queríamos enquanto banda.
Quer então dizer que foi a saída de Nick que impulsionou esta mudança a nível musical?
Não sei se posso afirmar isso [hesita]... Mas tenho de reconhecer que houve alguns papéis na banda que se alteraram. Sei é que se o Nick tivesse permanecido na banda teríamos feito outro grande disco, mas não este, certamente...
Fazendo a pergunta de outra forma, o que acrescentou aos Franz Ferdinand a chegada dos dois novos membros, o guitarrista Dino Bardot e o teclista Julian Corrie?
O Dino foi o primeiro a chegar e foi uma verdadeira lufada de ar fresco, porque abriu os horizontes da banda a outros territórios. O Julian foi o último a chegar e, além da boa energia, trouxe-nos um vasto leque de possibilidades ao nível de novas sonoridades eletrónicas, até mesmo ao vivo, para as canções mais antigas.
Já vamos poder ver isso quando regressarem a Portugal no verão, para o festival NOS Alive?
Claro que sim, estamos ansiosos por regressar a Portugal, é um dos países onde somos mais bem recebidos. Vai ser um concerto de festival e terá um alinhamento mais abrangente, que incluirá não só o disco novo como todas as nossas canções mais antigas que o público gosta de ouvir.
Ainda não se cansaram de terem de tocar sempre o Take Me Out?
Não podemos ficar cansados de tocar uma música que diz tanto a tantas pessoas, seria uma falta de respeito. A energia que vem do público sempre que tocamos essa música é algo único, que nos alimenta enquanto artistas. Mas é claro que quando estamos só os seis, num estúdio, a ensaiar, o entusiasmo já não é o mesmo [risos].