"Estão a pôr ciclovias no meio das passadeiras e não devia ser permitido"
Concorda com a criação de um Plano de Proteção Pedonal e de Combate aos Atropelamentos?
É fundamental que avance. O secretário de Estado já me tinha referido que iam avançar com um conjunto de políticas nesse sentido mas ainda não me enviou o plano. De qualquer forma, nos contactos que tenho tido com o governo nestas matérias uma das recomendações que fiz foi a melhoria das condições de segurança dos peões dentro das localidades.
E quais as principais medidas, na sua opinião, para criar mais segurança nos atravessamentos?
Passa necessariamente pela reorganização das infraestruturas para impedir que os carros atinjam velocidades superiores incompatíveis com a aproximação de peões. Por outro lado, estão a pôr ciclovias no meio das passadeiras e não devia ser permitido.
Mas as ciclovias no meio das passadeiras constituem um risco para os peões?
É um risco, claro. Qualquer pancada de uma bicicleta numa criança ou num idoso, que são mais frágeis, pode ser particularmente grave. E já houve casos desses. Foi inscrito no Plano de Segurança Rodoviária que as ciclovias não deviam interferir com os locais de passagem de peões, mas é importante que isto passe a ser de cumprimento obrigatório para as autarquias senão não se cumpre. Em Portugal só se cumpre o que se torna obrigatório.
Como se podia organizar melhor o tráfego em meio urbano?
Tem que ver com a organização da infraestrutura. Não faz sentido ter passadeiras numa zona de via rápida, por exemplo. E essa organização é muito importante em meio urbano, dentro das localidades, porque é aí que os peões estão. E são sobretudo os idosos as vítimas de atropelamento em Portugal, como concluiu um estudo comparado em países europeus.
A sinistralidade em meio urbano representou, em 2015, 51% do número total de vítimas mortais. A média europeia ronda os 39%. Não lhe parecem valores demasiado elevados?
São, sem dúvida, mas até baixaram. A sinistralidade em meio urbano já representou 53% e 55% do número total de vítimas mortais. Portanto, no ano passado até baixou um pouco. Mas temos de melhorar esses indicadores. Só há um ou dois países em toda a União Europeia com níveis tão maus como Portugal. Um deles, que me lembre, é a Roménia.
A redução do limite de velocidade para 30 km/hora dentro das localidades parece-lhe uma opção viável?
É viável mas apenas em alguns locais dentro das cidades, não pode ser em todos. Mas têm de ser criados meios que levem os condutores a andar a essa velocidade, como as lombas e sinalização adequada. Não basta apostar na fiscalização feita pelas forças de segurança. Tudo isto deve ser conjugado com a redução da velocidade de aproximação de veículos das passagens de peões e com a adequação das distâncias de visibilidade.
Quanto à medida de fiscalizar mais o estacionamento em cima dos passeios e nas passagens de peões, o que lhe parece?
Parece-me bem mas também é preciso haver uma repressão forte da ultrapassagem antes e em cima das passadeiras. Já foi dado um passo nesse sentido: na nova legislação da carta por pontos a única infração grave que leva a perder tantos pontos como a condução com álcool é a ultrapassagem nas passadeiras. O condutor é penalizado com a perda de três pontos. Raramente isto é referido mas é um comportamento que deve ser reprimido.