Estamos bem com Johnnie To

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Dois filmes que mostram a brilhante versatilidade do mestre de Hong Kong

O ano de 1999 foi muito produtivo para Johnnie To em termos de consistência na qualidade. O realizador de Hong Kong assinou três filmes, todos eles de recorte policial, que estão entre os seus melhores: The Mission, Where a Good Man Goes (rodado em Macau) e Running Out of Time.

Todos seriam vistos no ano seguinte, na secção paralela Fórum do Festival de Berlim, contribuindo para a descoberta e a projecção definitivas de Johnnie To fora da Ásia.

Running Out of Time passa hoje no IndieLisboa (Cinema São Jorge, 19.00), na retrospectiva dedicada ao realizador, um dos Heróis Independentes da edição deste ano. O filme pode ser visto como condensando todas as qualidades narrativas, visuais e dinâmicas do cinema de To, bem como demonstrando a capacidade do realizador de dar originalidade a formatos tradicionais, fazendo o familiar parecer novo ou totalmente diferente; e também de harmonizar a tradição do filme policial e de acção de Hong Kong, com influências do cinema americano, sem que estas nunca se transformem em "referências" pesadas ou em "piscadelas de olho" exibicionistas.

Em Running Out of Time, o sempre excelente (e muito cool) Andy Lau interpreta um assassino profissional que tem apenas duas semanas de vida, e decide utilizar esse tempo para se vingar dos membros do crime organizado de Hong Kong. Desafiando, ao mesmo tempo, um conceituado inspector da polícia, (Ching Wan Lau) perito em negociação de reféns, a prendê-lo.

Pelo caminho, criminoso e polícia vão desenvolvendo uma admiração mútua, e Johnnie To não desdenha lançar uns pozinhos de humor negro sobre a intriga.

Bem diferente é o outro filme de Johnnie To que o Indie exibe hoje, Throw Down (Cinema Londres, 15.00; repete dia 4 de Maio, às 15.45, também no Londres).

Visto fora de competição no Festival de Veneza de 2005, Throw Down poderá parecer desconcertante a quem não conheça muito bem a filmografia do hiperprodutivo realizador, ou esteja familiarizado somente com os títulos policiais e de acção que lhe trouxeram a fama em casa e no Ocidente.

Concebido como uma homenagem a um dos primeiros filmes de Akira Kurosawa, A Lenda do Judo (1943), que chega a citar directamente, Throw Down conta a história de um antigo campeão judoca proprietário de um clube nocturno em Hong Kong, de um jovem saxofonista entusiasta da modalidade e de uma cantora que quer atingir a fama, e dos desafios que lhes são postos.

Throw Down é uma combinação esfuziante de filme de artes marciais em ambiente contemporâneo, de comédia dramática e de devaneio onírico, não exigindo ao espectador que tenha visto A Lenda do Judo para que o possa compreender. Mas se o viu, apreciá--lo-á ainda melhor.

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