Oito anos depois do início da guerra que matou mais de 360 mil pessoas e obrigou milhões a fugir das suas casas, o regime de Bashar al-Assad controla quase dois terços da Síria. A guerra não está oficialmente ganha, mas a ameaça ao regime é muito menor - a situação está estática em relação aos rebeldes que controlam a região de Idlib, os curdos no nordeste do país procuram o apoio de Damasco (diante da partida iminente dos seus aliados norte-americanos e a ameaça turca), e o Estado Islâmico está à beira da derrota em Baghouz..Assad, que em 2000 sucedeu ao pai Hafez que tinha estado quase 30 anos à frente dos destinos do país, já enfrentava problemas devido ao desemprego elevado, à corrupção e à falta de liberdade política quando a Primavera Árabe irrompeu na região em 2011. Foi o rastilho para, a 6 de março de 2011, começarem em Deraa as primeiras manifestações a favor da democracia. A repressão dos manifestantes incendiou ainda mais a situação, com os sírios a sair à rua para pedir a demissão do presidente. O "dia de raiva", a 15 de março, marca oficialmente o início da guerra..Centenas de sírios voltaram neste domingo às ruas de Deraa, para protestar contra a inauguração de uma nova estátua de Hafez, quase oito anos depois de a original ter sido derrubada no início da guerra da Síria. O berço da revolta contra Assad foi reconquistada pelas forças governamentais em julho do ano passado. O regime tem reerguido várias estátuas do pai do presidente depois das vitórias militares que permitiram ao filho recuperar o território que já esteve nas mãos dos rebeldes..No meio do caos do conflito, o Estado Islâmico aproveitou para declarar em 2014 o seu califado na região, tendo chegado a controlar um terço do Iraque e da Síria. Em 2017, contudo, já estava a recuar, perdendo Raqqa, na Síria, e Mossul, no Iraque. Atualmente, controla apenas a localidade de Baghouz, junto à fronteira iraquiana..As forças curdas apoiadas pelos EUA lançaram neste domingo aquele que acreditam ser o ataque final contra Baghouz depois de vários ataques prévios e recuos para permitir a saída de civis (muitos deles, mulheres e filhos dos combatentes). Apesar de ter perdido o controlo, o grupo islamita radical ainda não está desmantelado, continuando a representar uma ameaça à segurança na região e não só..Início da guerra civil.Os protestos dos primeiros dias de março de 2011 e a repressão por parte das forças governamentais culminaram no "dia de raiva" de 15 de março, quando os manifestantes marcharam em Damasco e Aleppo e um pouco por todo o país para exigir a demissão de Assad. Este marca oficialmente o início do conflito à medida que a repressão dos protestos foi aumentando e que os apoiantes da oposição que acabaria por formar o Exército Livre da Síria começaram a pegar nas armas..Assad prometeu então esmagar "o terrorismo apoiado pelos estrangeiros". Só mais de um ano depois, a 15 de julho de 2012, é que o Comité Internacional da Cruz Vermelha indicou que os combates estavam de tal maneira espalhados pelo país que a situação devia ser considerada uma guerra civil..Além dos mais de 360 mil mortos, o conflito obrigou mais de dois terços da população a deixar as suas casas, tendo fugido para outros pontos do país (deslocados) ou até para o estrangeiro (refugiados) - 3,6 milhões vivem em campos só na Turquia e outro milhão arriscou a vida a cruzar o Mediterrâneo e a entrar na Europa, sendo um das faces visíveis da crise de refugiados na União Europeia que teve o seu pico em 2015..No verão de 2015, o presidente sírio parecia à beira de perder a guerra sob pressão dos rebeldes, controlando apenas um quarto do país. Em 2014, aproveitando o caos, o Estado Islâmico tinha declarado um califado entre o Iraque e a Síria e Assad combatia em várias frentes..Foi então que Assad pediu ajuda ao homólogo russo, Vladimir Putin, que enviou 50 caças russos para a Síria, que começaram a lançar ataques contra as zonas rebeldes, recuperando aos poucos o controlo - beneficiando também da guerra empreendida pelos EUA a partir de 2014 contra o Estado Islâmico, apoiando os curdos que controlam uma região do nordeste, onde querem formar uma região semiautónoma..Por outro lado, outro aliado de Assad entrou também em cena: o Irão. Milhares de combatentes xiitas (incluindo o Hezbollah do Líbano, mas também milícias do Iraque, do Afeganistão ou do Paquistão) terão ido para o terreno, com Teerão a apoiar Damasco também com milhões de dólares..Assad controla 70% do território.Atualmente, Assad controla cerca de 70% do território, uma área que inclui a maioria dos grandes centros urbanos. Os rebeldes mantêm um único enclave, na região de Idlib, no norte do país, entre Aleppo e a fronteira turca, contando com o apoio de Istambul que procura controlar os curdos que controlam o nordeste da Síria. Estes mantiveram-se afastados da guerra civil mas combateram ativamente, com o apoio dos EUA, o Estado Islâmico..Contudo, o presidente norte-americano, Donald Trump, já anunciou que pretende retirar os militares norte-americanos do país assim que o Estado Islâmico tiver sido derrotado, deixando os aliados curdos à mercê da Turquia - que os vê como "terroristas". A ideia de perderem o apoio de Washington levou-os a tentar reconstruir os laços com o regime de Assad, temendo uma eventual invasão turca..Com a saída dos EUA, são os russos que têm tudo a ganhar pelo seu contínuo apoio ao presidente sírio. Vão continuar no país para proteger os interesses que ali têm (seja bases aéreas como navais), ajudando a dar mais estabilidade ao regime, mas também beneficiando economicamente dos contratos de reconstrução do país que oito anos de guerra deixaram em ruínas..Já houve pelo menos nove rondas de negociação com mediação das Nações Unidas desde 2014, mas sem progresso. Assad continua a rejeitar negociar com a oposição e os rebeldes insistem que ele deve afastar-se como parte de um acordo. Outras tentativas de negociação em Astana, lideradas pela Rússia, Irão e Turquia, também falharam..Com Damasco numa segurança relativa, há sinais de que o regime está a voltar ao tabuleiro internacional. Vários países árabes vão reabrir as suas embaixadas na capital síria e, pela primeira vez desde o início do conflito, o governo enviou neste mês um representante a uma reunião da Liga Árabe na Jordânia. Esta organização tinha suspendido o país em novembro de 2011, por causa da repressão dos protestos da oposição, numa ação que Damasco considerou "ilegal e uma violação da carta da organização"..Ataques químicos.Segundo um relatório do think tank alemão Instituto de Políticas Públicas Globais (GPPI, na sigla em inglês), nos últimos oito anos foram registados 336 ataques com armas químicas na Síria. O instituto atribui 98% desses ataques ao regime de Assad, considerando que o Estado Islâmico foi responsável pelos restantes 2% (equivalente a seis ataques)..A administração de Barack Obama tinha dito que um ataque químico seria "uma linha vermelha" para os EUA, que responderiam militarmente, mas não cumpriu a ameaça quando, em agosto de 2013, o regime de Assad matou mais de 1400 civis com gás sarin, num ataque em Ghouta, próximo de Damasco. Segundo o relatório, cerca de 90% dos ataques ocorreram depois..O primeiro ataque químico foi a 22 de dezembro de 2012, em Homs. O último grande ataque, contabilizado no relatório, foi a 7 de abril do ano passado, tendo 78 civis morrido em Douma.
Oito anos depois do início da guerra que matou mais de 360 mil pessoas e obrigou milhões a fugir das suas casas, o regime de Bashar al-Assad controla quase dois terços da Síria. A guerra não está oficialmente ganha, mas a ameaça ao regime é muito menor - a situação está estática em relação aos rebeldes que controlam a região de Idlib, os curdos no nordeste do país procuram o apoio de Damasco (diante da partida iminente dos seus aliados norte-americanos e a ameaça turca), e o Estado Islâmico está à beira da derrota em Baghouz..Assad, que em 2000 sucedeu ao pai Hafez que tinha estado quase 30 anos à frente dos destinos do país, já enfrentava problemas devido ao desemprego elevado, à corrupção e à falta de liberdade política quando a Primavera Árabe irrompeu na região em 2011. Foi o rastilho para, a 6 de março de 2011, começarem em Deraa as primeiras manifestações a favor da democracia. A repressão dos manifestantes incendiou ainda mais a situação, com os sírios a sair à rua para pedir a demissão do presidente. O "dia de raiva", a 15 de março, marca oficialmente o início da guerra..Centenas de sírios voltaram neste domingo às ruas de Deraa, para protestar contra a inauguração de uma nova estátua de Hafez, quase oito anos depois de a original ter sido derrubada no início da guerra da Síria. O berço da revolta contra Assad foi reconquistada pelas forças governamentais em julho do ano passado. O regime tem reerguido várias estátuas do pai do presidente depois das vitórias militares que permitiram ao filho recuperar o território que já esteve nas mãos dos rebeldes..No meio do caos do conflito, o Estado Islâmico aproveitou para declarar em 2014 o seu califado na região, tendo chegado a controlar um terço do Iraque e da Síria. Em 2017, contudo, já estava a recuar, perdendo Raqqa, na Síria, e Mossul, no Iraque. Atualmente, controla apenas a localidade de Baghouz, junto à fronteira iraquiana..As forças curdas apoiadas pelos EUA lançaram neste domingo aquele que acreditam ser o ataque final contra Baghouz depois de vários ataques prévios e recuos para permitir a saída de civis (muitos deles, mulheres e filhos dos combatentes). Apesar de ter perdido o controlo, o grupo islamita radical ainda não está desmantelado, continuando a representar uma ameaça à segurança na região e não só..Início da guerra civil.Os protestos dos primeiros dias de março de 2011 e a repressão por parte das forças governamentais culminaram no "dia de raiva" de 15 de março, quando os manifestantes marcharam em Damasco e Aleppo e um pouco por todo o país para exigir a demissão de Assad. Este marca oficialmente o início do conflito à medida que a repressão dos protestos foi aumentando e que os apoiantes da oposição que acabaria por formar o Exército Livre da Síria começaram a pegar nas armas..Assad prometeu então esmagar "o terrorismo apoiado pelos estrangeiros". Só mais de um ano depois, a 15 de julho de 2012, é que o Comité Internacional da Cruz Vermelha indicou que os combates estavam de tal maneira espalhados pelo país que a situação devia ser considerada uma guerra civil..Além dos mais de 360 mil mortos, o conflito obrigou mais de dois terços da população a deixar as suas casas, tendo fugido para outros pontos do país (deslocados) ou até para o estrangeiro (refugiados) - 3,6 milhões vivem em campos só na Turquia e outro milhão arriscou a vida a cruzar o Mediterrâneo e a entrar na Europa, sendo um das faces visíveis da crise de refugiados na União Europeia que teve o seu pico em 2015..No verão de 2015, o presidente sírio parecia à beira de perder a guerra sob pressão dos rebeldes, controlando apenas um quarto do país. Em 2014, aproveitando o caos, o Estado Islâmico tinha declarado um califado entre o Iraque e a Síria e Assad combatia em várias frentes..Foi então que Assad pediu ajuda ao homólogo russo, Vladimir Putin, que enviou 50 caças russos para a Síria, que começaram a lançar ataques contra as zonas rebeldes, recuperando aos poucos o controlo - beneficiando também da guerra empreendida pelos EUA a partir de 2014 contra o Estado Islâmico, apoiando os curdos que controlam uma região do nordeste, onde querem formar uma região semiautónoma..Por outro lado, outro aliado de Assad entrou também em cena: o Irão. Milhares de combatentes xiitas (incluindo o Hezbollah do Líbano, mas também milícias do Iraque, do Afeganistão ou do Paquistão) terão ido para o terreno, com Teerão a apoiar Damasco também com milhões de dólares..Assad controla 70% do território.Atualmente, Assad controla cerca de 70% do território, uma área que inclui a maioria dos grandes centros urbanos. Os rebeldes mantêm um único enclave, na região de Idlib, no norte do país, entre Aleppo e a fronteira turca, contando com o apoio de Istambul que procura controlar os curdos que controlam o nordeste da Síria. Estes mantiveram-se afastados da guerra civil mas combateram ativamente, com o apoio dos EUA, o Estado Islâmico..Contudo, o presidente norte-americano, Donald Trump, já anunciou que pretende retirar os militares norte-americanos do país assim que o Estado Islâmico tiver sido derrotado, deixando os aliados curdos à mercê da Turquia - que os vê como "terroristas". A ideia de perderem o apoio de Washington levou-os a tentar reconstruir os laços com o regime de Assad, temendo uma eventual invasão turca..Com a saída dos EUA, são os russos que têm tudo a ganhar pelo seu contínuo apoio ao presidente sírio. Vão continuar no país para proteger os interesses que ali têm (seja bases aéreas como navais), ajudando a dar mais estabilidade ao regime, mas também beneficiando economicamente dos contratos de reconstrução do país que oito anos de guerra deixaram em ruínas..Já houve pelo menos nove rondas de negociação com mediação das Nações Unidas desde 2014, mas sem progresso. Assad continua a rejeitar negociar com a oposição e os rebeldes insistem que ele deve afastar-se como parte de um acordo. Outras tentativas de negociação em Astana, lideradas pela Rússia, Irão e Turquia, também falharam..Com Damasco numa segurança relativa, há sinais de que o regime está a voltar ao tabuleiro internacional. Vários países árabes vão reabrir as suas embaixadas na capital síria e, pela primeira vez desde o início do conflito, o governo enviou neste mês um representante a uma reunião da Liga Árabe na Jordânia. Esta organização tinha suspendido o país em novembro de 2011, por causa da repressão dos protestos da oposição, numa ação que Damasco considerou "ilegal e uma violação da carta da organização"..Ataques químicos.Segundo um relatório do think tank alemão Instituto de Políticas Públicas Globais (GPPI, na sigla em inglês), nos últimos oito anos foram registados 336 ataques com armas químicas na Síria. O instituto atribui 98% desses ataques ao regime de Assad, considerando que o Estado Islâmico foi responsável pelos restantes 2% (equivalente a seis ataques)..A administração de Barack Obama tinha dito que um ataque químico seria "uma linha vermelha" para os EUA, que responderiam militarmente, mas não cumpriu a ameaça quando, em agosto de 2013, o regime de Assad matou mais de 1400 civis com gás sarin, num ataque em Ghouta, próximo de Damasco. Segundo o relatório, cerca de 90% dos ataques ocorreram depois..O primeiro ataque químico foi a 22 de dezembro de 2012, em Homs. O último grande ataque, contabilizado no relatório, foi a 7 de abril do ano passado, tendo 78 civis morrido em Douma.