Estação Vitivinícola vive na precariedade dos bolseiros
Sofia Catarino é investigadora bolseira, tem uma competência única na Estação Vitivinícola Nacional (EVN), uma das unidades do Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas (INIAP) - um dos 13 Laboratórios de Estado (LE) do País - e, ao contrário da maioria dos seus sete colegas bolseiros naquele centro de pesquisa, tem sorte. Sofia terminou em Novembro a sua bolsa, mas felizmente para ela - e para a EVN - conseguiu uma nova bolsa, agora para o doutoramento, e tem por isso remuneração assegurada por mais quatro anos.
Cinco dos seus colegas bolseiros na EVN, alguns dos quais são, como ela, os únicos a assegurar ali algumas tarefas de investigação, não foram tão afortunados. As suas bolsas terminaram, ponto final. E se o seu futuro pessoal é uma incerteza, o da Estação Vitivinícola Nacional, a única no País que desenvolve algumas linhas de investigação neste sector estratégico, não parece mais auspicioso. Este é, aliás, um caso exemplar de dois problemas centrais que afectam o sistema científico nacional as carências financeiras, que no caso dos Laboratórios de Estado os mergulha na agonia, e a precariedade em que vive metade dos investigadores científicos em Portugal, que, na verdade, são bolseiros.
Sofia Catarino, que tem 33 anos e nunca foi outra coisa senão bolseira desde que começou a trabalhar em investigação, ilustra bem a dupla realidade. É a única investigadora na EVN com formação especializada para trabalhar com uma tecnologia de análise de minerais no vinho e representa, como provadora, a própria estação na Comissão Vitivinícola da Estremadura, embora não tenha qualquer vínculo à EVN. «Se estivesse nos quadros, ganharia o dobro do que ganho», diz. Mas, no INIAP, como em todos os outros Laboratórios de Estado, a entrada de efectivos para os quadros está congelada há anos, apesar de já terem saído inúmeros investigadores e técnicos de todos os LE. «Em muitos casos, houve competências que se perderam, porque as pessoas não foram substituídas e não houve transferência de conhecimentos», reconhece Curvelo Garcia, o director da EVN.
Estes problemas, e a perda de autonomia financeira dos LE em 2002, reduziram estes laboratórios à expressão mínima. Quanto aos bolseiros, o aumento do emprego científico, com investimento no sistema científico, é imprescindível.