Estação da Amadora "invadida" por 440 militares armados
Foi na passada terça-feira que, tal como acontece todos os anos por esta altura (desde 1979, pelo menos), cerca de quatro centenas de cadetes da Academia Militar da Amadora, percorreram a pé os 700 metros até à estação ferroviária da cidade, para embarcarem num comboio fretado com destino ao campo de Santa Margarida, para onde tinham marcados exercícios militares.
"Prática comum", garantiu ao DN o porta-voz do Exército. E seria assim, não fosse os militares, com equipamento de combate, de metralhadora ao ombro, terem entrado na estação à hora de ponta, utilizando uma plataforma comum aos outros passageiros.
Esta fonte oficial explica que "nos Exércitos Europeus e no âmbito da NATO, a utilização dos meios ferroviários para efeitos de treino e projeção de forças, viaturas e equipamentos, é uma prática comum" e que a Academia Militar também "tem previsto o treino da projeção de forças recorrendo a via férrea", treino esse que "visa validar e confirmar, técnicas, táticas e procedimento de transporte de equipamento e armamento em segurança, antes, durante e após a viagem, razão pela qual, entre outras, se optou pela projeção por esta via".
O porta-voz afirma que "para assegurar este treino, a Academia Militar, em coordenação com CP, que previu a atribuição em exclusividade de uma plataforma de embarque para efeitos de treino".
Porém, reconhece, essa situação "não veio a ocorrer, por motivo a que o Exército é alheio, levando a que o embarque tivesse de ocorrer numa plataforma definida pela CP, perante a presença de elementos civis.
Confirma ainda o Exército, que esta deslocação foi mesmo à hora de ponta, conforme atestam as fotos enviadas ao DN, mas por decisão da CP: "as fotografias enviadas referem-se ao embarque de Oficiais, Sargentos, Praças e Alunos da Academia Militar em comboio expressamente fretado para realizar o transporte dos mesmos, num quantitativo de 440 passageiros, entre a estação de caminhos-de-ferro da Amadora e a de Santa Margarida, no dia 27 de junho de 2023, pelas 08:09, conforme horário disponibilizado pela CP".
Quanto às armas, declara o Ramo que estas estavam descarregadas. "O transporte da arma individual, foi realizado em segurança de acordo com as normas de segurança previstas para o efeito. O transporte de munições é efetuado separadamente, em viaturas militares dedicadas para o efeito e de acordo com as normas de segurança previstas", afiança a mesma fonte oficial.
O PCP compreende a apreensão da população e pensa que é devida uma explicação. Recebeu vários testemunhos e fotografias e não gostou do que viu.
"Queremos que o governo nos explique a situação. Para nós o problema não é de legalidade ou ilegalidade, até porque militares fardados a viajar de comboio sempre houve. No entanto, militares armados a viajar de comboio por entre a população é que já não é comum e não havia necessidade. Podemos ainda levantar a seguinte dúvida Porque é que as armas não foram transportadas em transporte militar e os militares iam de comboio?", salienta o deputado João Dias, que integra a Comissão de Defesa Nacional.
Na quarta-feira, o grupo parlamentar comunista entregou um requerimento a questionar a ministra da Defesa, Helena Carreiras."Têm surgido com alguma frequência relatos de instruendos da academia militar a deslocarem-se fardados e armados pela cidade da Amadora até à estação ferroviária para utilizar comboios como meio de transporte. Será de presumir que estes instruendos o farão para o cumprimento de etapas necessárias ao curso que frequentam. O que é mais questionável é se o precisariam de fazer fardados e com armas empunhadas, bem como se esta é a forma mais segura e adequada para os transportar, para além de gerar nos utentes alguma estranheza", assinalam os deputados.
Querem que Helena Carreiras esclareça se tem conhecimento "relativo a instruendos da academia militar se deslocarem fardados e armados pela cidade da Amadora até à estação ferroviária a fim de utilizar o respetivo comboio"; se o governo considera que "seja necessário que os instruendos da Academia Militar viagem de comboio fardados e armados"; se "estas viagens acontecem em comboios reservados para os instruendos ou juntamente com a população civil"; e se "é "pratica comum fazer a deslocação de militares ou instruendos de outras unidades termos referidos anteriormente".
Neste mesmo requerimento, o Grupo Parlamentar do PCP refere ainda que teve "conhecimento da celebração de um contrato em Junho de 2022 entre a Academia Militar e o operador de TVDE Bolt Support Services PT para transporte de passageiros".
O contrato, a que o DN teve acesso refere que esta instituição de ensino que forma os oficiais do Exército vai pagar 22 mil e 500 euros por estes serviços para "o transporte privado de passageiros em viaturas descaracterizadas".
O porta-voz oficial do Ramo sustenta que este contrato se destina "a ser utilizado a título excecional quando esgotada toda a capacidade de transporte militar individual e coletiva disponível no Exército na região de Lisboa, tem como objetivo garantir o transporte de militares, que em representação da Academia Militar ou no cumprimento de outras tarefas, têm de participar em eventos ou realizar atividades, numa área circunscrita à região de Lisboa".
Para os comunistas "as duas situações mencionadas levantam preocupações quanto aos meios materiais das Forças Armadas, nomeadamente quanto aos meios de transporte para deslocações necessárias ao cumprimento de missões.