Estabilidade e não só: cinco desafios do governo de Sánchez

Sánchez anunciou esta quarta-feira o seu governo com maioria de mulheres e europeísta. Toma posse quinta-feira de manhã e enfrenta desafios como o da estabilidade política e parlamentar, confiança dos mercados, saúde da economia, País Basco pós-dissolução da ETA e Catalunha face à escalada do independentismo
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Pedro Sánchez apresentou esta quarta-feira à tarde a composição do seu governo, com 11 mulheres e seis homens entre os ministros. Histórico. É a primeira vez que acontece em Espanha. Recupera o Ministério da Cultura e cria os da Indústria, Comércio e Turismo e da Ciência. O governo, definido como europeísta pelo líder do PSOE, toma posse esta quinta-feira de manhã perante o Rei Felipe VI.

Entre os nomes femininos mais sonantes estão o de Nadia Calviño para ministra das Finanças. A galega era, até agora, responsável pela direção geral do orçamento na Comissão Europeia. E o de Dolores Delgado para a pasta da Justiça. Procuradora especialista na luta ao terrorismo islâmico, é tida como próxima do juiz Baltasar Garzón.

Recorde-se que Garzón foi proibido, em 2012, de exercer a profissão de juiz durante 11 anos por ter ordenado escutas entre os advogados de defesa e os arguidos do caso Gürtel. A sentença de uma parte deste processo por corrupção, na qual o PP de Mariano Rajoy foi condenado a uma multa de 245 mil euros, foi precisamente o que motivou a moção de censura de Sánchez. Aprovada na sexta-feira passada, levou à queda do governo do PP, agora substituído por um do PSOE.

A pasta do Interior ficará nas mãos do basco Fernando Grande-Marlaska, que tal como Garzón ganhou notoriedade na luta contra o terrorismo da ETA. A dos Negócios Estrangeiros e União Europeia foi entregue ao catalão Josep Borrell, ex-presidente do Parlamento Europeu. O ministro da Cultura e Desporto será Maxim Huerta e a ministra da Indústria, Comércio e Turismo Reyes Maroto. O da Ciência é o astronauta Pedro Duque. A Defesa, tal como acontecia até agora com Mariano Rajoy, voltará a ser entregue a uma mulher. Margarita Robles sucede a María Dolores de Cospedal.

A estabilidade é um dos cinco desafios principais que podem pensar para o novo chefe do governo espanhol, senão o maior de todos eles. Isto porque o PSOE de Pedro Sánchez é minoritário no Parlamento. Os socialistas contam apenas com 84 deputados, num total de 350.

"Este governo de Sánchez foi desenhado para ficar no poder, não para ir a eleições daqui a quatro dias e isso todos sabem", disse hoje o jornalista Carlos Herrera na Cope. Mas para ficar no poder são precisos acordos pontuais - para fazer avançar os vários dossiês - com os diversos partidos. Especialmente os da chamada geringonça que apoiaram Sánchez contra Rajoy (Unidos Podemos, PNV, ERC, PDeCAT, EH Bildu, Compromís e Nueva Canarias).

A seguir à estabilidade, talvez o segundo maior desafio seja transmitir confiança aos mercados, pois como se viu no caso de Itália, a incerteza na política pode levar a fortes perdas na Bolsa. Desde que Sánchez apresentou a moção contra o governo dos populares, a Bolsa espanhola caiu cinco jornadas consecutivas e segundo o porta-voz do PP no Parlamento "perderam-se 34 mil milhões de euros".

A estabilidade política e parlamentar é necessária também para a saúde da economia espanhola. O Senado vai votar o Orçamento do Estado, do tempo de Rajoy, nos dias 19 e 20 deste mês. E apesar das ameaças de algumas vozes, o PP, que tem maioria nessa câmara, indicou que não vai alterar o investimento aprovado para o País Basco. Isso poderia ser uma forma de castigar o PNV, que viabilizou o Orçamento ao lado do PP e, depois a seguir, a moção de censura do PSOE. Os anos de Rajoy ficaram creditados pela recuperação económica, depois de herdar do socialista José Luis Rodríguez Zapatero uma situação complicada, que obrigou, inclusivamente, a resgatar bancos.

A relação com um País Basco pós-dissolução da ETA e com uma Catalunha em pleno processo de rebelião a favor da independência são os quartos e quinto desafios a enfrentar pelo governo de Sánchez. Partidos como o basco EH Bildu poderão insistir na concentração de etarras presos. Um assunto sempre controverso. E o catalão PDeCAT exigir o levantamento do artigo 155.º da Constituição espanhola - acionado por Rajoy após o referendo iilegal na Catalunha - bem como a libertação de líderes independentistas detidos. Para já não falar no regresso do ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, no exílio, em Berlim, por ser atualmente alvo de mandado de captura pela justiça esapanhola.

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