"Esta temporada vai ser a mais forte de todas"

Cliff Curtis, Travis na série, atende o telefone do outro lado do mundo para dizer que a nova temporada da série, em estreia hoje, vai ser a mais clara. O final está em aberto
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"Não sei se posso responder a isso. É tudo tão secreto", afirma o ator Cliff Curtis, sobre a grande interrogação em torno da sua personagem: continuará Travis na quarta temporada? Os receios são fundados. Acaba de assinar contrato para participar em quatro filmes da série Avatar, o primeiro dos quais com estreia marcada para 2020.

Dá uma resposta diplomática, porém, certa quando se fala em Fear of the Walking Dead: "A não ser que se veja o cérebro de alguém, nunca podemos dizer mesmo que morreu." A frase só fere as suscetibilidades de quem não segue a prequela de The Walking Dead, emitida, e produzida, pelo canal AMC. "Nem eu sei", remata, explicando que "tudo está em aberto".

A terceira temporada estreia-se hoje, às 22.10, em dose dupla, e Cliff Curtis pode, sim, dizer que é "a mais limpa, mais clara e mais forte" das três. Di-lo sem soar a publicidade, ainda que o seja.

A conversa, por telefone, na sexta-feira, une antípodas. São 08.15 da manhã, em Lisboa, 19.15 na Nova Zelândia, terra natal do ator. Há uma pergunta que perpassa cada um dos episódios de Fear of the Walking Dead e Cliff Curtis enuncia-a: "Quando as coisas não estão bem, como se constrói a sociedade e se mantém a família?"

"A série explora histórias relevantes em torno do que significa a sociedade e os seus valores", afirma, considerando que essa sempre foi uma marca que distinguiu a prequela da série-mãe. "Esta sempre foi a forma de a série seguir um caminho diferente de The Walking Dead, o que acrescenta camadas de complexidade à história".

Depois da fuga da família na primeira temporada e do muito que vaguearam a bordo do veleiro Abigail na segunda, nesta terceira entrega os Clark-Manawa assentam arraiais numa comunidade na fronteira entre México e EUA. Perante a iminência do fim, a sociedade organiza-se. E é aqui que reside a diferença em relação aos episódios já conhecidos, segundo Cliff Curtis. "Na primeira e segunda temporadas, não se sabia lidar com o apocalipse, agora não há desculpas."

Um lado político

É também a temporada mais política de todas, ao abordar questões como sobrevivência e sustentabilidade? Dave Erikson, criador, argumentista e produtor, admitiu-o em entrevistas recentes. "Esta temporada ia ser sempre de charneira, haveria sempre alguma coisa da atualidade. Esse plano precede a eleição de Trump [como presidente dos EUA], mas agora, na ressaca da eleição, ressoa e ecoa um pouco mais", referiu numa entrevista ao Comicbook. "Eles são um grupo de preppers, preparados para o fim da democracia, não necessariamente para o acordar dos mortos", avalia o autor, que com esta terceira temporada se despede do universo The Walking Dead para se juntar a uma equipa do canal AMC.

Cliff Curtis, a quem a pergunta é devolvida, concorda com a leitura política do criador da série, reforçada com os acontecimentos do dia anterior. Na quinta-feira soube-se que Donald Trump pretende rasgar o Acordo de Paris, sobre o clima e a emissão de gases. "É mais uma camada de leitura", considera, na sua conversa com o DN. Mas, acrescenta, "sempre foi intenção de Fear of the Walking Dead ter essa componente".

"É uma série muito mais sobre seres humanos, sobre sentimentos, as coisas que amamos e o que nos ameaça. É diferente de The Walking Dead", considera o ator.

[destaque: "A audiência pensa: o que faria se fosse eu que estivesse nessa situação? Especula. Esta é a personagem que eu gostaria de ser"]

Cliff Curtis, nascido Clifford, estudou representação na Nova Zelândia e na Suíça. O seu nome começa a aparecer nos créditos de produções internacionais desde que foi escolhido para interpretar o papel de Mana no filme O Piano, de Jane Campion (1993), uma obra nomeada para os Óscares. No ano seguinte, interpretou um papel de maori em A Alma dos Guerreiros, de Lee Tamahori. Ele mesmo é descendente deste povo nativo neozelandês.

Longe dos sets de gravação, nos Estados Unidos da América, Cliff Curtis ocupa-se da produção para televisão e cinema, conta, garantindo que esta participação em Fear of the Walking Dead não mudou assim tanto a sua vida. "Estou ocupado em estar com a minha família e viver a minha vida."

Do outro lado da linha, uma terceira pessoa anuncia que chegou a hora de fazer a última pergunta da entrevista. O que atrai o público para uma série como The Walking Dead, e o seu posterior spin-off, ambientado numa época em que os eventos da série-mãe ainda não tinham acontecido? "Os extremos", diz, muito claramente, o autor.

"Há um certo voyeurismo em observar algumas personagens em situações extremas", defende. "A audiência pensa: o que faria se fosse eu que estivesse nessa situação? Especula. Esta é a personagem que eu gostaria de ser."

"É a condição humana levada aos extremos. A perda de tudo o que achamos importante. O trabalho, a universidade, não interessa o que fomos. Nada disso importa. Estamos limitados às mais básicas necessidades humanas", afirma Cliff Curtis sobre o ponto de partida da série, concluindo: "A simplicidade do sistema oferece decisões complexas para os seres humanos."


Fear of the Walking Dead estreia-se esta segunda-feira, às 22.10, com episódio duplo no canal AMC.NOS (posição 84), Meo (posição 86) e Nowo (posição 38)

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