Animal vivo ou empalhado? Autor de fotografia do ano foi desclassificado
O júri do Wildlife Photographer of the Year (WPY), concurso fotográfico do Museu de História Natural de Londres que premeia a melhor fotografia de vida selvagem em cada ano, desqualificou uma imagem que tinha sido premiada em 2017. Considera o júri que a imagem foi encenada, com o argumento de que o papa-formigas que parece preparar-se para atacar um ninho de térmitas estava morto e empalhado.
"O atacante noturno" é o nome dado à imagem em questão, captada numa reserva brasileira. A organização da competição afirma que o brasileiro Marcio Cabral, o autor da fotografia, terá violado as regras da competição.
A imagem foi captada no Parque Nacional das Emas, no estado brasileiro de Goiás, e foi distinguida na categoria "Animais no seu Ambiente" nos prémios WPY de 2017. Na imagem, as luzes verdes são, na verdade, escaravelhos bioluminescentes a tentarem atrair as suas presas.
A quarta regra do concurso da WPY esclarece que "as entradas não devem enganar o olhar do espetador nem subverter a realidade da natureza", o que levou a que a esta imagem fosse penalizada. Para além disso, a norma também pede que a legenda tenha informações completas, verdadeiras e precisas. "Considero desanimador e surpreendente que um fotógrafo vá tão longe para enganar a competição e toda a gente. A competição atribui importância à honestidade e integridade, e tal violação das regras desrespeita a comunidade de fotografia da vida selvagem, que está no centro da competição", disse à BBC Roz Kidman Cox, que durante mais de 30 anos foi juiz no Wildlife Photographer of the Year.
Se a presença do papa-formigas tinha sido descrita como um acaso feliz, agora o júri acha que tal não aconteceu e acredita que o animal é um modelo que pode ser visto no centro de visitantes à entrada da reserva. Após ter sido contactado em março por fontes anónimas que questionaram a autenticidade da imagem, o júri do concurso desencadeou de imediato uma investigação, e para o efeito recorreu a cinco especialistas, incluindo um perito em taxidermia. Para estes cientistas, existem demasiadas semelhanças entre os dois animais: as marcas, a postura, as morfologias e até mesmo o posicionamento dos tufos de pele.
À BBC, Marcio nega as acusações do museu, e garante que no dia em que tirou a fotografia estava acompanhado de uma testemunha e outros fotógrafos e turistas, acrescentando que "seria pouco provável que ninguém tivesse visto um animal empalhado a ser transportado e colocado estrategicamente nesta posição".
Por outro lado, Roz Kidman Cox, membro do júri do concurso, foi severa nas suas críticas: "esta desqualificação devia relembrar os participantes de que qualquer transgressão das regras e do espírito da competição será eventualmente descoberta".
Marcio Cabral colaborou com a investigação do museu ao fornecer imagens originais para inspeção tiradas "antes" e "depois" da imagem vencedora ter sido registada, segundo o Museu de História Natural de Londres. Porém, o autor argumentou que não tem outra imagem do animal por ter usado uma exposição de 30 segundos. "Depois de o flash ter disparado, o animal abandonou o local, daí que não tenha sido possível fazer outra foto com o animal a sair do lugar, que é totalmente escuro", explicou Cabral.
O fotógrafo já afirmou que vai continuar a protestar contra a decisão de excluírem a sua fotografia. O brasileiro diz ainda que não podia ter acesso ao modelo, uma vez que o centro de visitantes da reserva, onde foi captada a imagem, costuma estar encerrado durante a noite. E não deixou de considerar a hipótese de voltar ao Parque Nacional das Emas ainda este ano, com o objetivo de recolher provas que sustentem a veracidade da imagem.
Em 2009 os jurados do WPY também desclassificaram uma fotografia vencedora, desta vez com um lobo ibérico espanhol a saltar um portão. Na altura chegou-se à conclusão de que o animal não era propriamente selvagem, mas sim um lobo manso de um jardim zoológico.