"Está despedido!" A frase que Trump levou do The Apprentice à Casa Branca
Donald Trump deu-se a conhecer aos americanos e ao mundo graças ao reality show The Apprentice. Ali a sua frase de eleição para os candidatos era "Está despedido!" Na Casa Branca, a avaliar pelos primeiros seis meses, o presidente também parece não ter dificuldade em afastar os responsáveis que ele próprio escolheu. Anthony Scaramucci foi o último exemplo, com o diretor de comunicação a passar apenas dez dias no cargo. Mas o ex-banqueiro não foi o único a demitir-se ou ser forçado a tal. A sua entrada ditou a saída de Sean Spicer após 183 dias como porta-voz, menos seis que os que Reince Priebus passou como chefe de gabinete.
Que um novo presidente afaste alguns dos responsáveis que herda do antecessor não é novo. George W. Bush e Bill Clinton fizeram-no com vários procuradores do Departamento de Justiça. Mas Trump não demitiu só a procuradora-geral em funções, Sally Yates, nomeada por Barack Obama, apenas dez dias após ter chegado à Casa Branca, ou o diretor do FBI, James Comey , que investigava as suas ligações à Rússia, como também não poupou algumas duas suas próprias escolhas.
Segundo o site Presidential Power, um blogue de ciência política da universidade de Middlebury, no Vermont, só 75% dos membros de uma Administração chegam ao fim do primeiro mandato do presidente Mas a verdade é que passaram apenas seis meses e as saídas têm-se sucedido - nos últimos dias a um ritmo alucinante.
Apenas 23 dias depois de ter sido nomeado conselheiro para a Segurança Nacional, Michael Flynn foi a primeira baixa de peso da Administração Trump. O tenente general do exército americano, na reserva, foi forçado a demitir-se a 13 de fevereiro após ter escondido informações do vice-presidente Mike Pence sobre os seus contactos com a Rússia.
Mas tem sido sobretudo dentro da Casa Branca que a dança das cadeiras se tem verificado. Logo nos primeiros dias da presidência Trump muito se escreveu sobre a rivalidade entre o principal estratega Steve Bannon, o cofundador do site de notícias Breitbart News, conhecido pelas posições de extrema-direita, racistas e xenófobas, e Reince Priebus, o antigo líder do Partido Republicano que Trump escolheu como chefe de gabinete. O primeiro parece ter perdido influência, mas continua pela West Wing, enquanto Priebus foi a primeira vítima de Anthony Scaramucci, o ex-banqueiro de investimento que o presidente nomeou diretor de comunicação a 21 de julho.
The Mooch, como Scaramucci é conhecido entre os amigos, acusou Priebus de ser um dos responsáveis pelas fugas de informação para os media na Casa Branca. O chefe de gabinete acabou por apresentar a demissão a 27 de julho, afirmando que a Administração vai por um caminho diferente do seu.
A entrada de Scaramucci foi logo seguida da saída de Sean Spicer. O porta-voz da Casa Branca, que ganhou fama mundial após ser parodiado por Melissa McCarthy no programa televisivo Saturday Night Live, demitiu-se por discordar da contratação do novo diretor de comunicação. Próximo de Priebus desde o primeiro dia, Spicer há muito era dado como estando de saída, tendo-se destacado por algumas declarações polémicas - como a que definiu a assistência na posse de Trump como "a maior de sempre" - e pelo estilo combativo que adotava com os jornalistas. Com quase seis meses no cargo, Spicer é apenas o sexto na lista dos porta-vozes da Casa Branca que menos tempo estiveram em funções. O recorde pertence a Jonathan Daniels, que foi porta-voz de Franklin Roosevelt durante apenas 19 dias.
Recorde, esse sim, foram os dez dias de Scaramucci. O antigo banqueiro teve o mandato mais curto de qualquer diretor de comunicação da Casa Branca. Mas isso não o impediu de deixar a sua marca, com declarações como as que fez aos jornalistas reunidos na Casa Branca, garantindo estar disposto a "despedir toda a gente" na equipa presidencial para acabar com as fugas de informação para a imprensa. Mais tarde, foi ainda mais longe, tendo ligado a Ryan Lizza, jornalista da revista New Yorker, a admitir que o que queria mesmo era "matá-los a todos". The Mooch bateu por um dia o recorde do mandato mais curto no seu cargo, que pertencia a Jack Koehler, diretor de comunicação de Ronald Reagan.
Resistência no feminino
Com a Casa Branca nas notícias devido às guerras internas, Kellyanne Conway tem mantido, nas últimas semanas, uma discrição que os seus primeiros tempos no cargo não deixavam adivinhar. A conselheira presidencial, criadora da expressão "factos alternativos" e inventora de um massacre que nunca existiu, sobreviveu à limpeza no círculo mais próximo de Trump. E, segundo o site Politico, está para ficar, mostrando-se suficientemente convencida disso para ter o gabinete na West Wing cheio de fotos de família.
Mas Kellyanne não é a única mulher resistente na Casa Branca de um presidente que durante a campanha foi muitas vezes acusado de ser sexista. A conselheira de comunicação Hope Hicks tem-se mantido longe das notícias mas continua tão próxima como sempre do homem que na campanha a foi buscar à empresa da filha Ivanka para trabalhar com ele. Sarah Huckabee Sanders passou, com a saída de Sean Spicer, de número dois para porta-voz da Casa Branca e Dina Powell não só é a vice-conselheira para a Segurança Nacional como é uma das principais assessoras de Trump na área da economia. Já para não falar da própria Ivanka, que depois de ser nomeada conselheira do pai até assumiu o seu lugar numa reunião do G20.