ESTA BOLA COLORIDA

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A. M. Galopim de Carvalho, professor catedrático jubilado, foi director do Museu Nacional de História Natural e passa a escrever regularmente neste espaço

À semelhança do Sol, dos restantes planetas do Sistema Solar e dos asteróides mais volumosos, como Ceres e Pallas, a Terra assumiu a forma esferoidal por efeito da gravidade, ao contrário do que aconteceu com os pequenos corpos de que são exemplo os pequenos asteróides ou os minúsculos satélites, todos eles de formas muito irregulares.

Devido ao movimento de rotação, a Terra não é perfeitamente esférica. Entre os seus diâmetros polar (12 714 km) e equatorial (12 756 km) há uma diferença de cerca de 42 km, o que permite aproximá-la de um esferóide de revolução de muito pequeno achatamento. A interacção da gravidade terrestre com o efeito centrífugo da sua rotação define uma superfície imaginária, designada por geóide. Se não houvesse outras acções que a deformassem, poderíamos fazê-la corresponder à superfície média das águas do mar, ou seja, à superfície de nível zero, utilizada como referência na determinação de altitudes e de profundidades. Sabemos hoje que há deformações desta superfície (empolamentos e depressões) relacionadas com o fluxo de calor oriundo das profundezas do planeta, criando desníveis superiores à centena de metros.

Embora as grandes montanhas nos impressionem pela sua altitude (8848 m, no Everest) e as fossas abissais desçam a grandes profundidades (cerca de 11 000 m, ao largo das ilhas Marianas), os cerca de 20 km de desnível que produzem correspondem a apenas 0,003% do raio da Terra, o que nada afecta a visão que oferece aqueles poucos que têm a possibilidade e o privilégio de a olhar a partir do espaço exterior e a todos nós que a temos através de bem elucidativas fotografias. Essa visão é a de um disco parcialmente encoberto pelos "farrapos brancos das nuvens", no qual se divisam os oceanos, a azul-escuro, e os continentes, a castanho e verde. Mostra, ainda, um delgado aro envolvente, num belo tom de azul mais claro e luminoso, correspondente à cobertura atmosférica. Expressões como "planeta azul", como se lhe referiu Carl Sagan, ou "bola colorida", como escreveu António Gedeão e Manuel Freire cantou, põem em destaque esta característica da Terra, única entre os seus pares no Sistema Solar. Para além destas cores, visíveis de muito longe, há todas aquelas só observáveis à superfície do planeta. Basta que nos lembremos dos jacarandás que, em Maio, tingem de lilás as ruas e parques de Lisboa, das amendoeiras e das giestas em flor, do verde passando ao amarelo-dourado das searas maduras, pintalgadas pelo rubro das papoilas. O Deserto Pintado, no Arizona (EUA), deve o seu nome à explosão de cor que o alegra sempre que alguma chuva esporádica lhe mata a sede. Também no mundo animal e, em particular, no das aves, dos répteis e dos peixes, as cores são uma constante na nossa biodiversidade. Igualmente, entre os minerais, a cor é uma realidade, de tal modo importante que é utilizada como elemento de identificação de muitas espécies e variedades.|

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