Esperar que os eleitores alemães votem é como esperar por Godot
- Estragon: "Vamos."
- Vladimir: "Não podemos."
- Estragon: "Porque não?"
- Vladimir: "Estamos à espera das eleições alemãs."
As eleições alemãs são o Godot de 2017. Não tem havido praticamente nenhum debate político na Europa neste ano que não termine com alguma referência delirante às eleições de 24 de setembro. Quando as eleições terminarem, tudo se tornará muito mais fácil.
A verdade é que nada será melhor do que neste momento. Os dois maiores partidos estão no governo. São ambos pró-europeus. Juntos, têm 80% dos assentos no Bundestag. Têm uma maioria suficientemente ampla para mudar a Constituição. Independentemente de quais sejam as sondagens em que acreditamos, a sua quota conjunta de votos está prestes a cair drasticamente. Um dos resultados possíveis é que a atual grande coligação de democratas-cristãos e sociais-democratas regresse ao poder com uma maioria reduzida. Em alternativa, a CDU/CSU da chanceler Angela Merkel pode formar uma coligação com os democratas livres liberais, ou com o FDP e os Verdes. O FDP quer reduzir a capacidade de empréstimo do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o guarda-chuva de resgate da zona euro, e eliminá-lo a longo prazo. E quer a Grécia fora da zona euro. Pergunto-me o que é que vai ficar mais fácil exatamente?
A verdade sobre as eleições alemãs é que nada vai mudar muito. A Grécia não obteve alívio da dívida porque o sistema político alemão em geral rejeita as transferências de qualquer tipo. Além disso, a interpretação jurídica alemã da legislação da UE é de que o alívio da dívida é ilegal. Não há nenhum resultado concebível das próximas eleições que possa suavizar a posição atual, mas há um ou dois que podem vir a endurecê-la.
O mesmo se passa com a reforma da zona euro. Quando Emmanuel Macron foi eleito presidente de França em maio, ele prometeu prosseguir com a sua agenda da zona euro - após as eleições alemãs. Percebo que ele queira concentrar-se na política interna em primeiro lugar, como as reformas laborais da semana passada, mas as eleições alemãs são, novamente, totalmente irrelevantes.
O problema nunca foi a falta de interesse da Alemanha nas reformas, mas sim o tipo de reformas que deseja: metas orçamentais mais rígidas, uma implementação mais rigorosa, menos isenções, penalidades por incumprimento e interferência externa nas políticas dos países que não sigam os objetivos. Berlim quer reforçar as regras de não resgate da UE através de um mecanismo de reestruturação da dívida soberana. Isso deixaria o ónus do ajustamento com os detentores de títulos soberanos, muitos dos quais são os bancos nacionais e seguradoras dos países membros da zona euro.
Merkel manifestou o seu apoio à ideia de um ministro das Finanças europeu. Com isso, ela quer dizer um presidente em tempo integral do Eurogrupo de ministros das Finanças da zona euro, em vez do que temos agora a meio tempo. Não é uma coisa tão importante como possa parecer.
O presidente Macron ainda não disse o que realmente quer. Os seus conselheiros recuaram no apoio anterior a um instrumento comum de dívida da zona euro. Esta é a questão crucial, não porque a zona euro deva incorrer em mais dívidas, mas porque uma união monetária robusta, a longo prazo, exigirá um ativo seguro comum para funcionar.
Os títulos do governo alemão são um substituto insuficiente. Não são nem um instrumento comum nem estão suficientemente disponíveis. Após as compras de títulos pelo Banco Central Europeu, os que restam não chegam. E haverá cada vez menos enquanto a Alemanha continuar a ter excedentes orçamentais persistentes.
Se se excluir o instrumento de dívida comum da discussão, fica-se com um exercício de relações públicas hiperativo que esconde a falta de uma verdadeira união económica. Não ficaria surpreendido se a França e a Alemanha desviassem alguns dos seus gastos domésticos para um fundo de investimento comum e o rotulassem como um orçamento da zona euro. Mal posso esperar.
O Eurogrupo e o seu novo presidente estarão no comando. O MEE não eleito transformar-se-á num fundo monetário que irá impor condicionantes para qualquer assistência financeira. Não responderá perante o Parlamento Europeu porque é uma instituição intergovernamental fora do âmbito de aplicação dos tratados da UE.
Wolfgang Schäuble ainda quer que o MEE desembolse os fundos para a ajuda em calamidades, mas cuidado com um ministro das Finanças alemão a oferecer presentes: o MEE tornar-se-á a autoridade orçamental efetiva de qualquer país que receba o dinheiro.
Talvez Emmanuel Macron possa suavizar algumas das arestas de tudo isto. A minha leitura é que o principal objetivo da sua agenda para a zona euro não é consertar uma união monetária deficiente, mas fortalecer a parceria franco-alemã. O facto de haver acordo será mais importante do que o conteúdo. Penso que ele conseguirá o seu acordo, mas com a agenda da Alemanha.
Ou como disse Estragon: "Nada acontece. Ninguém vem, ninguém vai."