"Esperança" dos índios do Brasil vai para políticas globais - Ativista

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O ativista e um dos fundadores do movimento indígena do Brasil, Ailton Krenak, admitiu, em Lisboa, que a "esperança" dos índios do país reside nas organizações internacionais, esperando que estas "censurem" políticas do atual Governo brasileiro que violem tratados.

Os índios contam com "a possibilidade de que esses organismos internacionais censurem políticas internas do Governo brasileiro, quando elas violarem tratados e acordos de que o Brasil é signatário", afirmou o índio do povo Krenak, em entrevista à Lusa, em Lisboa.

Ailton participa esta semana na mostra Ameríndia, um ciclo de cinema e debates sobre o Brasil e os povos indígenas, a decorrer na Gulbekian até ao próximo domingo, um evento para o qual trabalhou durante ano e meio, diz.

Porém, o ativista ressalva que até agora não houve muitas mudanças na vida das famílias e comunidades indígenas, desde a tomada de posse do atual Governo do Brasil, liderado pelo Presidente, Jair Bolsonaro (extrema-direita), que ocorreu a 01 de janeiro deste ano.

A mudança de Governo no Brasil "impactou o quotidiano de muitas comunidades", mas "não chegou a mudar a realidade das aldeias, das famílias" indígenas, considerou.

"Eu acredito que foi um anúncio mais provocativo do que a efetiva mudança", disse, referindo-se a medidas que Bolsonaro anunciou durante a campanha eleitoral que são vistas como ameaças aos direitos dos povos indígenas.

"Teve muita provocação e muita ameaça, muita promessa também, e o que temos de facto é um povo que sempre resistiu e continua resistindo", afirmou.

"O povo indígena não começou a sofrer ameaça e agressão ontem, o povo indígena sempre viveu uma situação desfavorável e de resistência", relembrou Ailton, considerando que os índios já passaram por uma "situação muito pior".

"Eu fico observando a inquietação de muita gente em relação a como os índios vão sobreviver a tanta provocação, mas eu digo que os índios sempre viveram sob constante violência do Estado brasileiro", recorda.

Para Ailton Krenak, o Estado brasileiro nunca teve uma política "adequada" e "respeitosa" para com o povo indígena, independente do período da história do Brasil.

"Na colónia éramos declaradamente considerados um povo a ser domesticado e vencido. Quando começou a República continuou-se a fazer a mesma coisa, colonizando, matando, roubando os nossos territórios e negando os nossos direitos originários, que são os direitos de viver nos nossos territórios, com a nossa própria cultura", contou.

Apesar disso, "os índios conseguiram por um fim nessa história", recorda. E esse fim teve a ver "com convenções internacionais", como a declaração internacional dos direitos dos povos indígenas, das Nações Unidas, referiu.

"Então a nossa referência não é propriamente o limite da política do Estado brasileiro. A nossa referência são as políticas globais com relação aos direitos humanos", considerou.

Segundo o ativista, há quatro anos que a agenda do movimento indígena vai para Nova Iorque, Genebra, para os fóruns internacionais. Uma agenda que, garante, "não funciona em função da política atual do Brasil".

Durante 20 anos, as comunidades indígenas também lutaram nos fóruns internacionais, com uma agenda intensa a partir da décasda de 1990, para alcançarem a declaração dos direitos dos povos indígenas, explicando e divulgando para manterem direitos territoriais, direitos culturais e direitos humanos dos povos indígenas no mundo, recorda.

"É o que estamos a fazer aqui", em Lisboa, concluiu.

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