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ALHEIOS À COR lívida de quem passa muitas horas com a cabeça entre os livros, a determinação sublimada pelas incertezas de futuro uma vez terminada a faculdade, são cada vez mais os licenciados portugueses que hoje avançam para uma pós-graduação.

A competitividade do mundo profissional é inclemente, exige diferenciação. Perante um cenário de crise no mercado de trabalho, recém-licenciados com dificuldades em aceder ao primeiro emprego – e mesmo trabalhadores activos que já haviam dado por finalizada a sua formação – consideram as vantagens de se qualificarem mais um pouco com um mestrado ou um doutoramento. Tem toda a razão quem defende que o saber não ocupa lugar.

«Nesta área está tudo a mudar e muito», reconhece Francisco Rui Cádima, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), à luz da sua experiência enquanto universitário. «O ir além da licenciatura inscreve-se num objectivo absolutamente compreensível de complementar a formação, manter-se actualizado e aprofundar o conhecimento, mas também de desenvolver competências analíticas no quadro das questões estruturantes no domínio de estudo, ou de encontrar novas competências específicas no saber fazer, na informação e nas metodologias», sublinha o docente.

Alberto Gonzaléz, o presidente da Feira Internacional de Estudos Pós-Graduados que este ano se realizou pela primeira vez (a 12 de Maio) em Lisboa, contando com a presença de mais de trinta escolas europeias de negócios, confirma que «um mestrado é um requisito essencial para se ter um futuro profissional de sucesso».

Os mestrados cobrem actualmente as eventuais falhas que as licenciaturas possam apresentar e são a principal ferramenta em termos de competitividade nas empresas. Em contraciclo com a crise, observa, «um número crescente de estudantes, recém-licenciados e até mesmo desempregados que receberam indemnizações estão a apostar numa especialização que lhes permitirá uma valorização profissional e pessoal no futuro».

VOLVIDA UMA DÉCADA sobre a assinatura da Declaração de Bolonha (em Junho de 1999), Portugal conta-se no grupo restrito de países que cumprem todas as exigências necessárias à transformação dos sistemas de ensino superior, juntamente com a Suécia, a Escócia, a Irlanda e a Dinamarca. A generalização dos primeiros ciclos de três anos (licenciatura) e os mestrados de dois são já ponto assente em 98 por cento dos cursos nacionais das instituições de ensino superior públicas e privadas, alimentando receios de que os antigos licenciados possam sair prejudicados face aos mestres pós-Bolonha – a equivalência entre os graus não é imediata e requer o pagamento de propinas algo pesadas.

Ao mesmo tempo, são muitas as vozes que criticam a pressa com que a reforma foi aplicada no país, carecendo de cursos voltados para o mercado de trabalho, de revisão dos currículos e de métodos de ensino mais centrados no estudante e orientados para uma maior autonomia em matéria de estudo e reflexão. Nada que um enquadramento correcto não possa, no entanto, corrigir ainda.

«Os profissionais devem ter melhores qualificações em quaisquer circunstâncias e se as melhores qualificações corresponderem aos melhores empregos e salários, então só podemos concordar», apoia a investigadora Cristina Udelsmann Rodrigues, doutorada e especialista em Antropologia no Centro de Estudos Africanos (CEA) do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). «A educação e a formação não terminam com a obtenção de um qualquer grau de ensino, devem evoluir à medida das ambições e intenções de quem as procura.»

Quanto ao actual cenário de crise económica e a um possível impacte na implementação do processo de Bolonha no país, o ministro Mariano Gago é o primeiro a afirmar que a crise pode ser vista como uma oportunidade: «Para todos os países a qualificação vai ser um elemento decisivo para a reorganização das economias após a crise», insiste o responsável pela pasta da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, defendendo a mobilidade dos estudantes por países estrangeiros – e a capacidade de as instituições nacionais recrutarem além-fronteiras – como sendo um vector fundamental na qualidade da formação.

TODA A VIDA João Costa se convenceu de que a sua vocação era os computadores. As máquinas não tinham segredos para ele, passava tardes inteiras a desmontar peças, a enxertar pedaços e a explorar programas com o mesmo à-vontade de quem barra uma torrada com manteiga. Ninguém se espantou por isso quando, na hora de decidir o rumo a tomar, a licenciatura em Engenharia Informática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa foi a sua primeira e única escolha.

E por ali andou dois anos, até ao momento em que se descobriu apaixonado pelos números e equações, trocou a Engenharia Informática pela Matemática e terminou o curso para experimentar depois a vida laboral em Londres. Ainda hoje lá está, com 30 anos, namorada inglesa e uma vida nova, a trabalhar para conhecer melhor o meio e a pensar definitivamente em fazer um mestrado na área.

«Nunca há qualificações ou diplomados a mais: mais vale estar desempregado tendo uma formação válida que permita estar apto a assumir uma função em qualquer altura, do que trabalhar cedo, em situação precária, e depois não ter oportunidade nenhuma caso se perca esta posição», resume a socióloga Emília Araújo, da Universidade do Minho, fundamentando-se num estudo que está a realizar sobre «Mestrados em Portugal», financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

«É absolutamente necessário ir além da licenciatura, porque esta já não representa o mesmo que representava e as pós-graduações traduzem-se na possibilidade de actualizar e adquirir um leque de conhecimentos e competências adicionais.»

OS MESTRADOS, por exemplo, oferecem cada vez mais a vertente do estágio no último ano e tornam-se motivadores pelo lado da relação com o meio externo à universidade e o mercado de trabalho. Quem resolver investir na educação superior e fazer mais do que a licenciatura tem, porém, de se preparar para um esforço monetário suplementar e eventualmente até aproveitar as facilidades que os bancos dão para financiar os estudos.

Nada que deva desmotivar os interessados, que podem sempre comparar o sistema português com o britânico ou norte-americano para perceberem até que ponto os preços são acessíveis.

«Na área das Ciências da Comunicação da FCSH (onde oferecemos cursos de mestrado em Cinema e Televisão, Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, Comunicação Estratégica, Estudos dos Media e de Jornalismo, Comunicação e Artes), e também no mestrado profissionalizante de Jornalismo, o custo médio das propinas é de quinhentos euros no primeiro semestre, outros quinhentos no segundo e 1500 euros no terceiro», revela Francisco Rui Cádima, acrescentando que no caso do mestrado profissionalizante de Novos Media e Práticas Web o preço total fica em três mil euros.

Em matéria de doutoramentos já enquadrados pela reforma de Bolonha, e ainda na área das Ciências da Comunicação citada a título de exemplo, a mesma faculdade oferece especialidades em Cinema e Televisão, Comunicação Estratégica, Comunicação e Artes, Comunicação e Ciências Sociais, Comunicação e Linguagem, Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, Estudos dos Media e do Jornalismo, Teoria da Comunicação, e aqui as propinas são de seiscentos euros por semestre num total de oito semestres, o que perfaz a soma redonda de 4800 euros pela formação.

Emília Araújo confirma a prática de vários preços e refere que os mestrados de segundo ciclo «andam à volta do valor das propinas para cada universidade», enquanto os não integrados ou de especialização no sistema de ensino público podem ser mais caros: desde 1300 a 2500 euros por ano. «Os doutoramentos entram nesta lógica mas são mais demorados, exigem normalmente um perfil mais ligado à investigação e ao desenvolvimento e são ainda bastante caros no país quando comparados com Espanha, rondando os dois a três mil euros anuais», diz. Ou mais.

Para o professor Gabriel Mithá Ribeiro, um crítico do sistema de educação pelas sucessivas falhas em transformar oportunidades em bons projectos, «ir além de uma licenciatura faz parte da condição humana» e não precisa de outra justificação que não a de aumentar o conhecimento, «uma compensação intrínseca suficientemente forte por si só para o sujeito que aprende».

Um velho professor de Coimbra que muitos recordam gostava de insistir na ideia de que ter a licenciatura é simplesmente «uma licença para continuar a estudar e a aprender». Vale a pena perseverar em nome do conhecimento.

De pequenino se desperta a curiosidade

Num momento em que se equaciona a necessidade de uma formação básica de qualidade que assegure o êxito da educação até ao ensino superior, e combatendo o receio de que a matemática para entrar em Engenharia possa afastar alunos para outros cursos, a IBM Portugal organizou este ano a quarta edição nacional da Semana da Engenharia – Eweek, para dar a conhecer aos mais novos a carreira de engenharia nas suas diferentes abordagens.

De 12 a 17 de Maio, repetindo o sucesso de anos anteriores, centenas de jovens passaram pelo Pavilhão do Conhecimento Ciência Viva, em Lisboa, e foram convidados a descobrir as várias potencialidades e saídas profissionais ligadas à área das engenharias, através de experiências que lhes permitiram perceber como se obtêm alguns biocombustíveis, qual a importância das energias renováveis, quais as componentes tecnológicas das máquinas com que interagimos diariamente e como se conjuga toda a engenharia que está na base dos edifícios.

Conceição Zagalo, a directora de marketing e comunicações da IBM, considera este género de iniciativas absolutamente necessárias para que os jovens tenham «um contacto mais real com a aplicação prática da ciência, da matemática ou da tecnologia, motivando-os a aprofundar conhecimentos nestes domínios e a desenvolverem estudos a eles ligados».

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