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Embora não fosse um escritor de ficção científica (FC) propriamente dita, o inglês Douglas Adams, autor do livro de culto (na origem, um programa de rádio) The Hitchhiker's Guide to the Galaxy,e das quatro continuações que se lhe seguiram, tinha um sentido de humor muito chegado ao género. Grande admirador dos Pink Floyd, Adams inventou a banda de rock Disaster Area ("a mais barulhenta do universo"), em cujos concertos uma nave espacial era disparada em direcção ao Sol. Desta forma, brincava ao mesmo tempo com os excessos cénicos dos concertos dos grandes grupos e com os clichés espectaculares da FC.

Este espírito gozão está na base de The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, cuja versão para cinema, À Boleia pela Galáxia, se estreia hoje, produzida e realizada por Nick Goldsmith e Garth Jenkins. O argumento é do próprio Adams, que não o chegou a rever por ter morrido subitamente, sendo acabado por Karey Kirkpatrick.

Arthur Dent (Martin Freeman) é um cidadão britânico que acorda uma manhã e é informado que a Terra vai ser atomizada para dar lugar a uma auto-estrada intergaláctica. Ainda de pijama e roupão, é salvo pelo seu amigo alien Ford Prefect. Os dois apanham uma boleia clandestina numa nave dos Vorgon, os maiores burocratas e os soldados com pior pontaria do cosmos. Arthur irá ser transformado em sofá, conhecer o presidente do Universo (duas cabeças e nem ponta de juízo), aturar um robô neurótico, visitar uma empresa que fabrica planetas e enfrentar dois ratinhos brancos, enquanto cruza o universo numa nave Sport e tenta tomar uma chávena de chá decente.

Ou seja, temos pela frente uma paródia nonsense à pompa convencida das epopeias espaciais, uma ridicularização dos seus lugares-comuns. Mas também um naco de humor british sobre as humilhações sofridas por um tipo comum (poderes indiferentes, absurdos quotidianos, burocracias lentas e broncas, etc.), só que a uma dimensão cósmica.

À Boleia pela Galáxia é um filme desequilibrado, ora divertido, ora mortiço, com altos de exuberância e baixos de torpor - o que tem piada em rádio e na página nem sempre funciona visualmente. O que funciona, e bem, é a narração pernóstica de Stephen Fry e os cartoons estilizados que a acompanham, deixando-nos a pensar se o livro de Douglas Adams não teria sido mais bem servido por uma versão em desenhos animados.

Estreia-se hoje em Portugal 'À boleia pela galáxia', adaptação para cinema do livro de ficção científica cómica (e de culto) de Douglas Adams

A ideia nasceu quando Douglas Adams passou, Hitch hikers Guide To Europe na mão, por uma cidade austríaca, onde todos lhe pareceram alheados, falando línguas que não entendia. Embebedou-se e foi dormir ao relento, sendo iluminado pela história de Arthur Dent que uma manhã acorda para ver casa e planeta demolidos, apanhando boleia numa nave. Projectada como série de rádio na BBC (1978), The Hitchhikers Guide To The Galaxy alia FC a um humor rico em nonsense e gerou cinco livros, entre 1979 e 1992. O primeiro vendeu mais de 15 milhões de exemplares e é um fenómeno de culto. N. G.

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