Escutas decisivas na condenação do árbitro Martins dos Santos
A promessa de promoção de três árbitros, um deles filho do próprio arguido, em troca de uma arbitragem que beneficiasse o Marítimo, no jogo com o Nacional, valeu a Martins dos Santos a condenação a 20 meses de prisão com pena suspensa por igual período. A decisão do Tribunal de Gondomar, no âmbito do processo "Apito Dourado" relativo ao jogo Marítimo-Nacional (2-0, da época 2003), também condenou o co-arguido António Henriques, ex-elemento do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a 28 meses de cadeia, suspensa por igual período.
A juíza Manuela Sousa considerou que o árbitro Martins dos Santos praticou um crime de corrupção desportiva passiva e que António Henriques praticou o mesmo crime, na forma activa. Depois de validar as escutas - "é legítimo o recurso àquela prova", disse - a juíza deu como provado que Henriques prometeu a Martins dos Santos ajuda na promoção de dois árbitros portuenses e eventualmente de Daniel Santos, seu filho, da III à II categoria.
"Depois do jogo, Martins dos Santos telefonou a António Henriques e disse-lhe que tinha sido complicadíssimo beneficiar o Marítimo", diz o acórdão lido pela juíza, que entendeu não ter ficado provada a manipulação do resultado do jogo, sem deixar de existir a predisposição para aceitar o aliciamento. "Parece-nos a única leitura possível destas conversas ou será que estavam a falar do tempo?", comentou.
Martins dos Santos e António Henriques já anunciaram que vão recorrer da sentença. "Limitei-me a cumprir, a fazer o meu melhor", disse o ex-árbitro, reconhecendo que esta condenação é uma "mancha na sua carreira", que admite abandonar.