Escândalo no Planalto anima opositores de Dilma

'Veja' denunciou esquema de subornos que envolve sucessora da candidata do PT
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Tudo indica que Dilma Roussef, economista que até agora nunca disputou uma eleição, será a próxima presidente do Brasil. As últimas sondagens atribuem-lhe 50% das intenções de voto, contra 27% para o seu rival José Serra e apenas 11% para a senadora Marina Silva, do Partido dos Verdes. A manter-se o statu quo, nem sequer haverá segunda volta e tudo ficará decidido logo a 3 de Outubro. Mas o jogo ainda não terminou.

Sem experiência política, Dilma tem história. Actuou em grupos armados que combatiam o regime militar e esteve presa. Foi ministra de Minas e Energia de Lula e, com o escândalo do Mensalão, substituiu o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, nessa importante função, onde, na prática, se fica acima dos de mais ministros e se filtra tudo o que vai ao Presidente. Como Luiz Inácio Lula da Silva tem 80% do apoio popular, conseguiu passar à novata política Dilma boa parte do seu prestígio.

A oposição estava desorientada, com a queda de Serra (PSDB) - que já perdeu para Lula em 2002. Mas agora parece estar a ganhar novo alento com recentes escândalos no Governo e no partido de Lula, o PT - Partido dos Trabalhadores.

Descobriu-se que membros desta formação obtiveram dados sigilosos sobre os impostos aplicados aos rendimentos da filha de Serra, Verônica, de outros parentes dele e ainda de Eduardo Jorge Pereira, vice-presidente do PSDB. O Governo responde que os militantes do PT que participaram desta manobra não têm qualquer relevância no partido e agiram de forma completamente isolada.

Até agora o "povão" não deu muita importância ao tema, mas na classe média Dilma está a perder prestígio de forma acentuada.

Mas acaba de surgir nova denúncia, desta vez contra a substituta de Dilma na chefia da Casa Civil, Erenice Guerra. A revista Veja desta semana afirma que o filho de Erenice, Israel Guerra, teria beneficiado uma empresa junto dos serviços dos Correios e, com isso, obtido um suborno de cerca de 2,2 milhões de euros.

A Veja, cujo título de capa é "O Polvo no Poder", escreve: " Conhecida por ser o braço direito da presidenciável Dilma Rousseff, a advogada montou no Palácio do Planalto uma central de lóbi familiar-partidário que querem negociar com o Governo uma taxa de 6%".

Serra diz que o Governo virou "central da maracutaia", enquanto Dilma declara que a oposição, sem hipóteses de vencer, quer salvar-se com uma "bala de prata" - um facto novo que altere a situação favorável de que a candidata do PT goza agora.

Mesmo com a preocupação ambiental no mundo, Marina Silva não está a obter muito sucesso. O Brasil tem na agricultura seu grande trunfo e a senadora verde não está a conseguir explicar como iria manter os lucros da terra e, ao mesmo tempo, trocar áreas produtivas por florestas.

Dilma deixou de lado seu passado de acções violentas e apresenta-se como a candidata do centro-esquerda, sem o radicalismo de outrora. Afinal, o partido centrista PMDB, que é o maior do país, está do seu lado e não admitiria um Governo de extrema-esquerda. Serra também se opôs ao regime militar, mas sem pegar em armas. Era presidente da União Nacional dos Estudantes na década de 70 e exilou-se no Chile. Marina Silva era amiga do líder ecologista Chico Mendes e sempre foi do PT, tendo sido ministra de Lula até há três anos.

Analistas políticos dizem sentir saudades das antigas eleições, em que candidatos da direita acusavam os esquerdistas de planear uma ditadura marxista e ouviam, deles, serem vendidos ao capitalismo americano. Hoje, Serra e Dilma apresentam visões parecidas sobre muitos problemas, com Dilma apenas um pouco à esquerda de Serra. Pode dizer-se que a campanha, principalmente antes das actuais denúncias, andava muito politicamente correcta.

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