Escândalo de doping resulta em acusações 5 anos depois

Os alegados cabecilhas da rede de doping desmantelada na "Operação Puerto", da Guarda Civil espanhola, enfrentam finalmente possíveis condenações depois de cinco anos em que o caso se arrastou na justiça criminal e impediu que quase todos os 58 ciclistas alegados clientes fossem sancionados pela justiça desportiva.
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No final de Março, a Procuradoria de Madrid pediu dois anos de prisão, proibição de exercer e multas de 16 mil euros para Eufemiano Fuentes, José Luis Merino Batres, José Ignacio Labarta, Yolanda Fuentes e Manolo Sáiz, por crime continuado contra a saúde pública. Eufemiano Fuentes era o alegado líder do esquema baseado na dopagem sanguínea. Merino Batres usava o laboratório de análises que dirigia como base de operações para a rede. Labarta era director desportivo da Comunitat Valenciana e contratava os serviços de Fuentes para sua equipa. Yolanda, irmã de Eufemiano, era chefe da equipa médica da Comunitat Valenciana. Sáiz era director desportivo da Liberty Seguros-Würth e foi detido na companhia de Eufemiano Fuentes e Merino Batres.

Mas, segundo o El País, as acusações particulares associadas ao caso Puerto são mais duras que os procuradores, nomeadamente o Conselho Superior de Desportos (CSD), a Agência Mundial Antidopagem (AMA), a União Ciclista Internacional (UCI) e a Real Federação Espanhola de Ciclismo (RFEC). O novo secretário de Estado dos Desportos, Albert Soler, disse que a Advocacia do Estado, em nome do CSD, pede três anos de prisão para Merino Batres e dois anos e meio para Fuentes, Yolanda, Labarta e Sáiz. O CSD acrescentou ainda à acusação particular Vicente Belda, ex-director da equipa Kelme e para o qual o Estado pede dois anos e meio de prisão.

Se forem condenados a dois anos e não tiverem antecedentes, dificilmente cumprirão prisão efectiva, diz o El País. Mas com uma condenação mais dura será difícil obterem pena suspensa e escaparem à prisão efectiva. Merino Batres é visado de forma especial pelo CSD (pedidos três anos de prisão e outros tantos sem poder exercer a sua profissão) deve-se ao facto de alegadamente ter actuado de forma criminosa enquanto era funcionário da Comunidade de Madrid.

A "Operação Puerto" foi o maior escândalo de dopagem de sempre no ciclismo internacional. A rede tinha alegadamente 58 ciclistas como clientes (e suspeitas de envolvimento de outros desportos), mas o juiz de instrução, António Serrano, impediu a justiça desportiva de usar as provas obtidas na investigação criminal para sancionar desportivamente os envolvidos. Além disso, o movimento desportivo espanhol não mostrou grande vontade de lutar, em instâncias de recurso, contra a decisão do juiz. Foram a UCI e a AMA a protagonizar essa luta.

Apenas os ciclistas não espanhóis envolvidos, como por exemplo os italianos Ivan Basso e Michele Scarponi, foram punidos, porque Serrano libertou as provas pedidas pelas autoridades judiciais de outros países. Alejandro Valverde foi a excepção, pois a Itália aproveitou a ausência de Serrano para convencer a juíza que o substituía a ceder amostras de uma bolsa de sangue apreendida pela Guarda Civil, atribuída ao corredor. O ADN foi depois comparado com uma amostra cedida por Valverde numa etapa da Volta à França que se disputou em território italiano. A sanção de dois anos imposta em Itália acabou por ser ratificada e ampliada internacionalmente pelo Tribunal Arbitral do Desporto. Mas a maioria dos ciclistas espanhóis suspeitos tiveram de competir em equipas de segunda linha, incluindo portuguesas, porque as da elite acordaram um código ético em que se comprometiam a não contratar corredores suspeitos.

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