Erdogan: fim do estado de emergência só quando acabar o terrorismo

Fethullah Gülen, opositor no exílio, nega ligação ao golpe. Presidente turco diz que já não é imprescindível o seu país aderir à UE
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Um ano depois do golpe de Estado falhado na Turquia que fez 249 mortos e dois mil feridos na noite de 14 para 15 de julho de 2016, o presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou ontem que o estado de emergência só será levantado quando não houver mais necessidade de combater o terrorismo.

"Não pode estar em questão o levantamento do estado de emergência com tudo aquilo que está a acontecer. Levantaremos o estado de emergência quando não precisarmos de combater o terrorismo. Isso poderá ser possível num futuro não muito distante", disse o presidente turco, em Ancara, perante uma audiência constituída por investidores, homens de negócios e organizações não governamentais estrangeiras, segundo a Reuters e a BBC.

Os críticos acusam o chefe do Estado turco de utilizar os mecanismos possíveis sob o estado de emergência para perseguir opositores e reforçar o seu poder, contornando o Parlamento na aprovação de leis ou na suspensão de direitos e liberdades fundamentais, se considerado necessário. Recep Tayyip Erdogan, de 63 anos, está no poder desde março de 2003, primeiro como primeiro-ministro e posteriormente, desde 2014, como presidente.

Desde o golpe falhado de 2016, 150 mil pessoas foram expulsas ou suspensas do exército, da função pública e do setor privado e mais de 50 mil, pelo menos, foram detidas por alegadas ligações com a preparação do referido golpe. 7655 militares turcos, incluindo 150 generais e almirantes e 4287 oficiais, foram desmobilizados. "A purga militar está quase concluída através da desmobilização de militares de todas as patentes. Esta luta continuará até que o último membro FETO tenha pago o preço da traição", afirmou, por seu lado, o primeiro-ministro Binali Yildirim.

FETO é a designação usada pelo governo para se referir aos apoiantes de Fethullah Gülen, que vive exilado nos EUA desde 1999 e o qual o regime de Recep Tayyip Erdogan acusa de estar na origem do golpe falhado de há um ano. Numa entrevista à agência Reuters, na sua casa nas Montanhas Pocono, na Pensilvânia, Gülen, de 79 anos, negou pretender fugir dos EUA se for extraditado para a Turquia. "Esses rumores nada têm de verdade. Se os EUA considerarem apropriado extraditar-me, eu irei", afirmou, manifestando esperança de que a administração de Donald Trump não aceite extraditá-lo para a Turquia. Quanto a Erdogan, reafirmou que é um ditador. "Se ele ouvir uma voz forte dos EUA ou da UE, do Parlamento Europeu, de Bruxelas, a dizer-lhe que o que ele está a fazer de errado... que o seu sistema judicial não está a funcionar, talvez então ele mude de ideias." O líder do movimento Hizmet, que quer dizer serviço em turco e tem seguidores a nível global, nega estar ligado a quaisquer atos violentos e reafirma que defende a via pacífica. "Nunca apoiei qualquer golpe", garantiu na entrevista à Reuters.

Apesar destas declarações feitas por Fethullah Gülen, Erdogan não parece estar muito preocupado com o que pensa a UE (que apesar de o criticar precisa dele por causa da crise dos refugiados). Em entrevista ao HardTalk da BBC, o presidente turco afirma que já não considera imprescindível que a Turquia adira à UE.
"A maioria dos turcos já não querem a UE e acham que a abordagem da UE sobre a Turquia não é sincera. Nós honramos a nossa palavra. Se a UE nos disser que já não pode aceitar a Turquia na UE isso será reconfortante para nós", disse, acusando os líderes europeus de fazerem os turcos perder tempo.
A Turquia submeteu o pedido de adesão à UE em 1987, mas as negociações só começaram em 2005, tendo estado, quase sempre, mergulhadas num impasse. Muito por causa do diferendo que existe sobre a divisão da ilha de Chipre, mas também por outros aspetos ligados à noção de democracia.

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